
A busca por viver a santidade deve ser a vocação fundamental de todo católico. Somos chamados a ser filhos de Deus, a imitar verdadeiramente Cristo e, como diz a famosa canção: “Amar como Jesus amou, pensar como Jesus pensou e viver como Jesus viveu”. Temos várias ferramentas que nos auxiliam nesse caminho de santidade, como a oração, os sacramentos e a prática das virtudes.
O autoconhecimento é uma forma importantíssima de chegarmos a Deus. Alguns santos falaram bastante sobre esse tema. Santa Teresa d’Ávila chegou a afirmar que “Todos os danos provêm de não nos conhecermos devidamente”.
No caminho formativo da comunidade Pantokrator, e provavelmente em outras comunidades, ordens e institutos religiosos, há um ano específico dedicado ao autoconhecimento. O homem e a mulher crescem espiritualmente à medida que se entregam à vontade de Deus e aprendem a lidar consigo mesmos, conhecendo a fundo seu passado. Não para mudar o que já aconteceu, pois não temos esse poder, mas para olhar com uma nova perspectiva e dar um novo significado aos acontecimentos.
QUEM SOU EU?
Quem sou eu? Esta pergunta não é fácil de responder. É preciso uma reflexão profunda sobre nossa história para encontrarmos uma resposta. Talvez nem mesmo nós tenhamos absoluta certeza de quem somos, pois ainda não dedicamos tempo suficiente para nos conhecer. Somos o resultado de muitos acontecimentos e de muitas histórias. Pense na sua árvore genealógica: quantas pessoas foram necessárias para que você viesse ao mundo? Pessoas com as mais variadas personalidades e histórias, todas elas influenciaram de alguma forma a resposta à pergunta “Quem eu sou?”. “Eu sou o que Deus pensa de mim”, afirmou Santa Terezinha do Menino Jesus.
Quando partilhamos com alguém sobre os traumas do passado, é quase unânime a figura dos pais. São as pessoas com quem convivemos no começo e grande parte de nossas vidas, e é delas que aprendemos os valores que nos moldam para sempre. A paternidade responsável gera nos filhos muitas virtudes: coragem, bondade, sabedoria, temor a Deus, entre outras. Já a ausência dos pais ou uma parentalidade negligente gera impactos negativos, como falta de afeto, inseguranças, medos e traumas. Um filho é o resultado daquilo que vive dentro de casa.
MINHA VIVÊNCIA
Atualmente, trabalho em uma escola atendendo alunos e seus pais. Percebo o quanto a presença e a participação familiar são importantes no desenvolvimento e no comportamento de uma criança ou adolescente. Há casos de indisciplina grave que escondem muitas outras questões vividas dentro de casa. Nesses casos, a grande maioria envolve alunos(as) que não têm pais (são criados por avós, tios ou parentes) ou que têm pais negligentes. O abandono, a falta de carinho, a ausência de limites e o descaso são refletidos na escola, em um ambiente de convivência com outros estudantes que possuem os mais variados tipos de personalidades e de educação parental.
Muito se tem debatido sobre os rumos da educação no Brasil e como resolver seus inúmeros problemas. Penso que, nesse processo, o primeiro e maior passo deve ser a participação e conscientização dos pais, para que assumam a responsabilidade de proporcionar uma educação verdadeira, baseada em bons valores, como amor, diálogo, responsabilidade e respeito. Precisam entender que, a cada dia, agregam coisas boas ou ruins na personalidade de seus filhos.
TEMPERAMENTOS
Nos últimos anos, tem-se popularizado entre nós católicos o estudo dos temperamentos, que nos auxilia no caminho do autoconhecimento. Podemos dizer que um temperamento é “o conjunto de inclinações íntimas que brotam da constituição fisiológica de um homem. É a característica dinâmica de cada indivíduo, que resulta do predomínio fisiológico de um sistema orgânico (sistema nervoso, sistema sanguíneo) ou de um humor (bílis, linfa).” (1)
É uma espécie de marca registrada de cada pessoa. É a forma como lidamos com as situações e as emoções. Pense agora em uma situação simples: você está com seu carro parado no sinal e um carro vem e bate na traseira do seu veículo. Como você reagiria? Com xingamentos e ofensas? Dialogando? Deixando para lá? Tentaria resolver de forma pacífica? Cada pessoa terá uma reação diferente, e isso é explicado em parte por essa marca que é o temperamento.
Na classificação mais popular, existem quatro tipos de temperamentos: Sanguíneo, Colérico, Fleumático e Melancólico. Não é objetivo aqui detalhar cada um desses temperamentos, mas podemos destacar que cada um possui virtudes e defeitos. Não existe um temperamento melhor do que outro. Outra coisa importante é que uma pessoa pode apresentar características de mais de um temperamento; não é uma “caixinha fechada”! Este conhecimento é valioso, mas não para usarmos como muleta e justificar atitudes, dizendo: “Ah, eu agi assim porque sou do temperamento tal…” Não é isso!
Apesar de estarmos mais inclinados a certos tipos de pecados, é preciso trabalhar isso. Não devemos nos contentar com o fato de sermos assim, mas, a partir desse conhecimento, gerar uma mudança, uma conversão. Jesus deve ser sempre o nosso modelo de autoconhecimento. Ele possuía as virtudes dos quatro temperamentos. Em algumas passagens do Evangelho, Ele foi manso, enquanto em outras, vimos palavras mais duras. Às vezes acolhia, em outras denunciava com força e paixão. Conhecer-se é permitir que se revele aquilo que Deus pensa de nós, pois isso é o que realmente importa. Não deixe que seu passado influencie seu presente. Rompa com todo o mal que você possa ter vivido. Recapitule, ou seja, dê um novo sentido ao passado para que Deus escreva uma nova história com você.
Fonte: www.pantokrator.org.br
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