“Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas sobre o mundo.” — Santa Teresinha do Menino Jesus
Há cem anos, no dia 17 de maio de 1925, o Papa Pio XI elevou aos altares uma jovem carmelita enclausurada, desconhecida do mundo, mas já íntima dos céus: Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Com apenas 24 anos, encerrada entre os muros de um mosteiro francês, sem obras grandiosas aos olhos do mundo, ela havia vivido intensamente a vocação mais alta de todas — o amor. Numa era em que a santidade parecia reservada aos mártires e eremitas, Teresinha abriu uma nova via: a pequena via da confiança e da entrega total. A sua canonização não foi apenas o reconhecimento de uma alma santa; foi o desvelar, pela Igreja, de um farol de esperança em meio à escuridão do mundo moderno.
A Pequena Via: o caminho de confiança e abandono
Santa Teresinha tornou-se para todos os corações cansados, feridos e pequenos um espelho da verdade eterna: Deus não exige grandezas, mas fidelidade no ordinário, amor nas coisas miúdas, confiança no meio da noite. Sua doutrina, nascida da pureza do Evangelho, ecoa como um cântico da misericórdia divina. Teresinha compreendeu que Deus é mais pai do que juiz, que desce até os pecadores como o Sol entra nas trevas para iluminá-las, e que nada é pequeno aos olhos d’Aquele que vê o coração. Por isso, ela se lança como criança nos braços do Pai, sem medo, sem reservas. É neste abandono que reside sua santidade — e é nele que o mundo, em seus naufrágios, encontra consolo.
A profecia de uma “chuva de rosas” não é retórica piedosa. A história do último século testemunha graças incontáveis: milagres, conversões, curas físicas e espirituais, vocações suscitadas por sua intercessão. Homens e mulheres de toda nação, em todas as línguas, encontraram nesta jovem carmelita uma amiga da alma. Sua presença silenciosa acompanha os que sofrem, os que oram sozinhos, os que buscam sentido. Em hospitais, prisões, campos de guerra e conventos esquecidos, a chuva de rosas se fez presente, sinal de que o céu não se fechou, de que Cristo não nos abandonou.
O céu aberto aos pequenos: Teresinha e a promessa da eternidade
Santa Teresinha é mais do que uma santa devocional; ela é um ícone escatológico, um sacramento vivo da esperança cristã. Ela nos recorda que o céu não é uma abstração, mas uma pátria preparada para os que amam. O seu olhar, cheio de desejo pela eternidade, não era fuga do mundo, mas consumação do amor que começa já aqui, nos gestos pequenos, nos sacrifícios escondidos. Ao dizer que passaria seu céu fazendo o bem na terra, Teresinha rompeu o véu entre o tempo e a eternidade e nos fez compreender que os santos não são distantes, mas irmãos que caminham conosco, chamando-nos ao alto.
E que esperança é essa, senão Cristo mesmo, crucificado e ressuscitado, que em sua infinita misericórdia escolheu os pequenos para confundir os sábios? Teresinha, ao reconhecer sua pequenez, deu glória à grandeza do Amor. Ela sabia que não podia subir ao céu por seus próprios méritos, mas confiava no elevador da graça divina, que é Jesus. Esta confiança escandalosa — essa audácia humilde — é o remédio para um mundo que perdeu a fé no amor gratuito de Deus.
Hoje, no centenário de sua canonização, a Igreja não apenas a celebra com flores e cânticos; ela a contempla como um sinal profético da esperança que não engana. A rosa de Lisieux continua a desabrochar em meio ao deserto espiritual de nosso tempo, proclamando que a santidade é possível, que o amor é mais forte do que a morte, e que o céu está aberto — não para os fortes, mas para os que se sabem frágeis e, por isso, confiam.
Santa Teresinha não apenas nos mostra o céu — ela nos puxa para lá, com sua mãozinha terna de irmã, dizendo que amar é tudo, que tudo passa, e que Deus basta. E no silêncio da oração, quando tudo parece perdido, sua voz sussurra ao coração: “Confia. Ama. Sê pequeno. O céu te espera.”
E enquanto chovem as rosas, a alma se lembra: ainda é possível ser santo. Ainda é possível amar. Ainda é possível esperar.
Ana Clara Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator
Fonte: www.pantokrator.org.br
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