terça-feira, 24 de setembro de 2024

O Papa: libertem Aung San Suu Kyi. Pronto para acolhê-la no Vaticano


"La Civiltà Cattolica" publica as conversas de Francisco com os jesuítas que o Pontífice encontrou na Indonésia, Timor-Leste e Singapura, no âmbito da viagem ao Sudeste Asiático e à Oceania. Apelo do Pontífice em prol da líder birmanesa, presa em 2021 após o golpe militar em Mianmar: "Recebi o filho dela em Roma. Ofereci o Vaticano para acolhê-la".

Vatican News

Durante sua última Viagem Apostólica – entre 2 e 13 de setembro de 2024 –, o Papa Francisco encontrou-se em três ocasiões distintas com seus confrades jesuítas na Indonésia, Timor-Leste e Singapura. O Santo Padre pediu a libertação da senhora Aung San Suu Kyi, líder deposta birmanesa, promotora dos direitos humanos, vencedora do Prêmio Nobel da Paz, presa desde 2021 após o golpe militar. O padre Antonio Spadaro, presente nos encontros, fez um relato exclusivo para La Civiltà Cattolica, que será publicado na edição 4183 da revista. O texto integral está disponível no site www.laciviltacattolica.it.

Trabalhar com refugiados, no espírito do padre Arrupe

Nos três encontros, o Papa Francisco lembrou em várias ocasiões a figura do padre Pedro Arrupe, ex-Prepósito Geral da Companhia de Jesus, falecido em 1991, e seu testamento espiritual. «Padre Arrupe quis que os jesuítas trabalhassem com refugiados – disse o Pontífice – uma fronteira difícil. E ele fez isso pedindo-lhes, antes de tudo, uma coisa: oração, mais oração», porque «somente na oração encontramos a força e a inspiração para enfrentar a injustiça social». E acrescentou que «é importante a forma como o padre Arrupe falou aos jesuítas latino-americanos sobre o perigo da ideologia misturada com a justiça social». Para o Santo Padre, Arrupe «foi um homem de Deus. Estou fazendo o possível para que ele chegue aos altares».

Segundo Francisco, o padre Arrupe «se dedicou à inculturação da fé e à evangelização da cultura». Dois aspectos que representam «a missão fundamental da Companhia». Para o Santo Padre, «a fé deve ser inculturada. Uma fé que não cria cultura é uma fé proselitista».



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«Os símbolos políticos devem ser defendidos»

Ao falar com os jesuítas sobre a «difícil» situação em Mianmar, o Papa Francisco recordou os Rohingya, minoria muçulmana discriminada e muitas vezes vítima de perseguição, e afirmou: «Hoje, em Mianmar, não se pode ficar em silêncio: é preciso fazer algo!». E acrescentou: «Vocês sabem que os rohingyas me tocam profundamente. Falei com a senhora Aung San Suu Kyi, que era primeira-ministra e agora está na prisão». O Santo Padre relatou ter «pedido a libertação da senhora Aung San Suu Kyi» e recebido o filho dela em Roma: «Ofereci o Vaticano para acolhê-la em nosso território. Neste momento, a senhora é um símbolo. E os símbolos políticos devem ser defendidos». O futuro do país, lembrou o Papa, «deve ser a paz fundada no respeito à dignidade e aos direitos de todos, no respeito a uma ordem democrática que permita a cada um contribuir para o bem comum».

Cristãos perseguidos

Respondendo a um confrade que pedia conselho sobre as situações em que os cristãos são perseguidos, Francisco disse: «Penso que o caminho do cristão é sempre o do “martírio”, ou seja, do testemunho. É necessário dar testemunho com prudência e coragem: são dois elementos que andam juntos, e cabe a cada um encontrar o seu caminho». E concluiu: «A prudência sempre arrisca quando é corajosa».

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Justiça social, parte essencial do Evangelho

Respondendo às perguntas dos jesuítas de Timor-Leste, Francisco falou sobre a justiça social como «parte essencial e integrante do Evangelho». E esclareceu: «A justiça social deve levar em conta as três linguagens humanas: a linguagem da mente, a linguagem do coração e a linguagem das mãos. Ser um intelectual abstrato da realidade não ajuda no trabalho pela justiça social; o coração sem intelecto também não serve; e a linguagem das mãos sem coração e sem intelecto não ajuda em nada». Para o Papa Francisco, o «desejo» de justiça social «deu frutos» ao longo da história: «Quando Santo Inácio nos pede para sermos criativos, ele nos diz: olhem para os lugares, os tempos e as pessoas. As regras, as Constituições são importantes, mas sempre considerando os lugares, os tempos e as pessoas. É um desafio de criatividade e de justiça social. É assim que se deve estabelecer a justiça social, não com teorias socialistas. O Evangelho tem sua própria voz».

Por fim, referindo-se à Companhia, o Pontífice acrescentou: «Eu sonho com ela unida, corajosa. Prefiro que errem por coragem do que por segurança. Mas alguém pode dizer: “Se estivermos nos lugares de luta, nas fronteiras, sempre haverá o risco de escorregar...”. E eu respondo: “E escorreguem!”. Quem tem sempre medo de errar, não faz nada na vida».



O único compromisso do primeiro dia de Francisco na cidade-estado, a quarta etapa da viagem ao sudeste asiático e à Oceania, foi o encontro com os irmãos na Casa de Retiros São ...

Fonte: Revista La Civiltà Cattolica

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