A pesquisa con genes é, para Frei Moser, uma aventura em que não se sabe o começo nem o resultado que ela vai dar
A ciência
encontra-se em constante estado de evolução, buscando novos remédios,
equipamentos e tratamentos que possam beneficiar pessoas que sofrem com
alguma enfermidade. No entanto, um tipo de pesquisa, em especial,
desperta polêmica na sociedade. Trata-se do uso de células tronco
embrionárias em tratamentos terapêuticos.
As células-tronco podem
ser adultas ou embrionárias. As primeiras já estão no próprio
organismo, de forma que se pode dizer que o corpo humano está repleto de
células-tronco adultas. A polêmica é em torno das células embrionárias.
Para o especialista em Bioética e também integrante da Comissão
de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frei
Antônio Moser, o próprio termo utilizado para definir este tipo de
célula é um equívoco.
“O melhor é falar de embrião, porque já
não é mais uma célula. O embrião tem a sua identidade própria, tem o seu
DNA próprio e original. Portanto, desde o momento da fecundação já não é
mais uma célula”, explicou frei Moser.
Ética, Igreja e as células-tronco
O
especialista enfatizou que a Igreja e a ética, de forma geral, não têm
problema algum com as pesquisas com células-tronco adultas, desde que
sejam feitas com competência, sem comercialização e respeitando os
princípios éticos referentes à vida humana. Ele acredita que, nesse tipo
de estudo, pode-se colocar expectativas porque seria algo bom para a
sociedade. “Você então não estaria esperando a morte de alguém para que
outro viva, mas estaria realmente propiciando a vida sem a morte de um
doador”.
Já sobre o uso de células-tronco embrionárias, o
especialista acredita que a prática é uma traição ao princípio básico do
direito à vida em todas as suas etapas. Ele informou que até hoje, 10
anos depois da liberação de pesquisas com esse tipo de células, os
cientistas não obtiveram resultados. “E nunca se vai conseguir,
justamente porque o embrião não vai ser assimilado por nenhum outro
organismo. Inclusive todas as tentativas fracassaram e houve também
casos de tentativa, como nos Estados Unidos, em que o resultado foi a
morte do receptor dessas células”, contou.
Site pessoal
Frei Moser, que defende a vida desde a fecundação, ressaltando que o embrião já não é mais uma simples célula
Riscos
Para
além da questão ética, frei Moser destacou que o trabalho com os
embriões nessa perspectiva propicia e leva à eugenia, o que implica na
eliminação do embrião que possa, eventualmente, portar qualquer
anomalia. Para o frei, isso é uma forma de buscar a vida apenas para os
mais belos e mais fortes, por exemplo, o que contraria a visão cristã de
vida.
“A nossa visão de vida cristã nos diz que todo ser que
nasce tem que ser respeitado e o fato de haver deficiências é altamente
positivo, no sentido de lembrar a todos nós a consciência da nossa
fragilidade. Nós não somos ninguém. Nós somos tudo quando estamos em
comunhão com Deus e com os irmãos, fora disso, somos seres muito
frágeis”, contou o frei.
Outra implicação desse tipo de estudo,
segundo ele, é o risco de manipulação e comercialização de embriões. O
especialista contou, por exemplo, que já houve no Brasil um caso de
mesclagem de óvulos de mulheres com idades diferentes, visando garantir a
eficácia do resultado.
“Traduzindo, nós estaríamos no auge de
uma manipulação completamente inaceitável. Você não sabe mais quem é o
pai, quem é a mãe e qual o resultado”.
Legislação
No
Brasil, em março de 2005, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de
Lei da Biossegurança com 352 votos favoráveis, 60 contrários e uma
abstenção. Mas, para Frei Moser, ainda não se tem como ter o controle
necessário para esse tipo de pesquisa. “Na prática, cada um faz o que
bem entende, não tem mecanismos de controle. Como você vai controlar o
que se passa dentro de um laboratório?”
O frei acredita que as
pesquisas com células-tronco embrionárias podem, inclusive, constituir
uma ameaça à degeneração da espécie humana, já que não há como saber
quais serão os resultados genéticos. “É como se a natureza fosse mal
feita e nós, que somos conhecedores do mecanismo secreto, somos capazes
de gerar o perfeito. Isso é uma arrogância muito grande. Mexer com genes
é simplesmente uma aventura que você não sabe nem como vai começar
muito menos como vai acabar”.
Ele disse que os laboratórios
podem, sim, dar bons frutos em outras pesquisas, como em animais ou na
agricultura. No tocante à vida humana, no entanto, enfatizou que os
riscos são muito grandes.
“Todo cuidado é pouco e, sobretudo,
deveremos ter uma normatização muito mais adequada para impedir todo
tipo de abuso. Agora, na prática, isso não existe e é o grande desafio
do momento: como preservar os valores da vida humana, o direito de um
ser poder ser ele mesmo e não simplesmente o fruto de uma mixagem de
elementos genéticos”.
Fonte:noticias.cancaonova
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