À luz da Teologia do culto
dos santos, podemos perceber que Santo Antônio, por ter sido um "homem
enamorado de Cristo e do seu Evangelho", apresenta uma mensagem muito
rica. Poderíamos desdobrá-la a partir dos símbolos com os quais ele é
representado, como o Livro dos Evangelhos. o Menino Jesus sobre o Livro, a
Cruz, o lírio.
Aqui gostaríamos de
deter-nos no símbolo do pão. O pão constitui um elemento inseparável de toda
a devoção a Santo Antônio, independente de sua origem. Ele até se chama
"Pão de Santo Antônio".
A história do "Pão de
Santo Antônio" remonta a um fato curioso que é assim narrado:
"Antônio comovia-se tanto com a pobreza que, certa vez, distribuiu aos
pobres todo o pão do convento em que vivia. O frade padeiro ficou em apuros,
quando, na hora da refeição, percebeu que os frades não tinham o que comer:
os pães tinham sido roubados".
Atônito, foi contar ao
santo o ocorrido. Este mandou que verificasse melhor o lugar em que os tinha
deixado. O Irmão padeiro voltou estupefato e alegre: os cestos transbordavam
de pão, tanto que foram distribuídos aos frades e aos pobres do convento.
Até hoje na devoção
popular o "pãozinho de Santo Antônio" é colocado, pelos fiéis nos
sacos de farinha, com a fé de que, assim, nunca lhes faltará o de que comer.
Mais do que a lenda da
origem do "Pão de Santo Antônio", importa perceber toda a riqueza
do seu simbolismo. Sem dúvida ele revela toda a riqueza da dimensão apostólica
da vida de Santo Antônio.
Por curiosidade
interessei-me em saber se havia alguma estátua de Santo António com o pão em
sua figuração. Assim, certo dia, entrei por acaso na igreja de Santa Luzia no
Castelo, no Centro do Rio de Janeiro. Encontrei no fundo da igreja uma Imagem
de Santo Antônio, tendo sobre o braço esquerdo o Livro dos Evangelhos, com o
Menino Deus sentado sobre o livro, segurando um cesto repleto de pães,
enquanto Santo Antônio com a mão direita oferece um pão a alguém. Era o que
procurava.
Fato é que, através de
Santo Antônio, Jesus continua a realizar o grande milagre da multiplicação
dos pães. Jesus tem compaixão da multidão faminta e multiplica o pão para
saciar-lhe a fome.
Mas se olharmos para as
narrações da multiplicação dos pães, vemos que Jesus nunca age sozinho. Pede
a colaboração dos apóstolos: "Dai-lhes vós mesmos de comer; quantos pães
tendes, ide ver". Voltando de sua procura, trouxeram-lhe cinco pães e
dois peixes. Deu ordens para que fizessem sentar-se à multidão, em grupos, na
relva verde. Jesus dá graças sobre os pães e os peixes e dá aos discípulos
para distribuí-los. E no fim foram ainda os apóstolos que recolheram doze
cestos cheios de pedaços de pão e restos de peixe (cf. Mc 6,35-44).
O grande milagre de Jesus está em multiplicar sua presença e sua ação nos seus discípulos. Através deles é que Jesus quer saciar a fome da multidão faminta, tanto da fome corporal como espiritual. Através dos seus discípulos Jesus deseja ser alimento, deseja ser o pão para a vida do mundo.
O pão simboliza tudo.
Simboliza a vida. simboliza a fraternidade. Quando se diz que falta o pão,
dizemos que falta a comida, falta o alimento, falta o necessário para a vida.
Por isso, Jesus ensina a pedir o pão de cada dia, em outras palavras, que
Deus nos conceda a vida, para que possamos realizar a sua vontade, para que o
seu Reino venha, e, assim, seu nome seja santificado, ele que é nosso Pai.
Como diz Santo Irineu: A
glória de Deus é a vida do ser humano. Por isso, diz São Tiago em sua carta:
"A religião pura e imaculada diante de Deus Pai é visitar os órfãos e as
viúvas em suas tribulações e conservar-se sem mancha neste mundo"
(1,27).
Há duas maneiras de se
fazer a memória e assim tomar presente Jesus Cristo hoje na Igreja, nos
cristãos, no mundo: A primeira é a memória ritual ou celebrativa,
principalmente pelos sacramentos e de modo especial pela Eucaristia. O
segundo modo é pela memória testamentária. É viver o testamento de Jesus
Cristo transmitido na última Ceia, isto é, viver o sentido do lava-pés: viver
o novo mandamento, ser também Corpo dado e Sangue derramado, a exemplo de
Jesus Cristo.
São duas expressões da
ação de graças, da Eucaristia, são duas maneiras de se viver a Eucaristia.
Uma sem a outra é estéril; uma alimenta a outra. Não há verdadeira Eucaristia
celebrada sem que também sejamos pão partilhado para a vida do próximo, a
exemplo de Jesus Cristo.
Talvez o maior milagre que
Santo Antônio continua realizando é justamente que sua mensagem, sua
caridade, continuam presentes em tantas obras de caridade, em tantas
"Pias Uniões de Santo Antônio", em tantas mulheres e homens também,
capazes de dedicarem toda a sua capacidade de amor e de serviço ao próximo
necessitado junto a igrejas dedicadas a Santo Antônio através do pão de Santo
Antônio.
Quantas senhoras que dão
seu tempo, sua dedicação para assistirem famílias e pessoas necessitadas! As
contribuições em dinheiro oferecidas pelos fiéis para o "Pão de Santo
Antônio" ou entregues aos frades "para os seus pobres".
Tudo isso poder-se-ia acusar de paternalismo. Não. Nosso Senhor mesmo disse: Pobres sempre tereis entre vós (cf. Jo 12,8). Penso que em relação a eles devemos distinguir dois aspectos: As obras de misericórdia fazem parte da vida evangélica, da vida cristã.
Contando a parábola do bom
samaritano, Nosso Senhor nos ensina claramente que cada um deve aproximar-se
do necessitado, ser próximo daquele que necessita de compaixão. Fazer o que
estiver em nossas mãos para auxiliá-lo em sua necessidade.
Poderão dizer: Devemos
promover a pessoa, dar-lhe o anzol para que possa pescar. Contudo se não
tiver força nem para segurar o anzol será preciso dar-lhe também e, em
primeiro lugar, o peixe. Claro que num segundo momento, ou simultaneamente,
vem a promoção, que consistirá em criar todo um conjunto de condições para
que a pessoa tenha condições de se autopromover. Através de suas imagens se
percebe que Santo Antônio não retém o Menino Deus para si.
Apresenta-o, oferece-o a
todos. Esta oferta transforma-se concretamente em pão, em alimento, e
promoção das pessoas, principalmente das mais necessitadas.
Santo Antônio foi, sem
dúvida, o grande pregador do Evangelho, o anunciador da verdadeira doutrina
sobre Jesus Cristo. Encontrou Jesus Cristo e o seu mistério no estudo e na
meditação dos Santos Evangelhos. Mas não o reteve para si.
Ele continua revelando
esta faceta da vida evangélica e apostólica à Igreja dos nossos dias,
convocada para a nova evangelização. Importa, porém, que os pregadores do
Evangelho hoje também o vivam, também tenham encontrado nele o Cristo Jesus.
Só assim, o testemunho, o
anúncio de Jesus Cristo será proclamado com novo ardor, será autêntico, e,
por isso, eficaz. Como Antônio, o grande pregador, o missionário incansável,
o homem de oração, todos os cristãos que aderem a Cristo, que são batizados e
recebem o Espírito Santo como Dom do Pai e do Filho, no Sacramento da Crisma,
também são chamados a viver sua vocação profética.
Ser profeta significa
antes de tudo dar o testemunho do novo mandamento da caridade. Significa imitar
Deus que é amor. É viver o amor na comunidade conjugal, na comunidade
familiar, na comunidade social. Ser profeta e profetisa é revelar Deus neste
mundo através do amor e apontar para Deus, imitando-o no seu amor em todas as
circunstâncias da vida, é levar uma vida segundo o Evangelho.
Não só os apóstolos, não
só os Bispos e os sacerdotes e os religiosos e religiosas devem pregar ou
anunciar o Evangelho. Também o fiel leigo participa desta missão da Igreja.
Desta forma ele se transforma em pão multiplicado para saciar a multidão
faminta.
Quais as modalidades de
sua pregação? Primeiro, sendo fiel à sua vocação cristã de viver na graça de
Deus. Na medida em que ele estiver em comunhão com Deus, já está realizando
um apostolado. Mas não basta evangelizar-se.
O cristão leigo também é
chamado a evangelizar: pelo exemplo de vida cristã, ou pelo testemunho; pela
palavra de exortação e de edificação quando se lhe oferecer a ocasião; pela
ação, participando das diversas Pastorais da Igreja em suas diversas
dimensões: a comunhão e a participação, nos ministérios leigos, nos diversos
serviços da Comunidade, na Pastoral vocacional; na colaboração com as missões
da Igreja, indo eventualmente para terras de missão; na Catequese; nos diversos
serviços na Liturgia; no Ecumenismo; na dimensão sóclo-transformadora,
ajudando a construir um mundo mais justo e fraterno.
Mas é próprio do
apostolado ou da evangelização do cristão leigo, a consagração do mundo
através de sua ação, nos diversos estados de vida, nos diversos campos de
trabalho e nas mais variadas profissões: no mundo do trabalho, do esporte, da
arte, das ciências, da política, da justiça, da promoção da Paz, da Justiça,
da Ecologia.
São fundamentalmente dois
os modos de agir do Divino Espírito Santo na vida do cristão. Ele suscita
vida, faz surgir a vida. Eis o sopro de Deus na manhã da criação, o sopro de
Jesus Cristo, na manhã da ressurreição. Mas, por outro lado. ele faz com que
a vida se desenvolva e chegue à perfeição. No Batismo ele nos faz filhos de
Deus, nos faz renascer pela água, símbolo de vida. Mas esta vida não pode
permanecer como uma semente.
Deve germinar, nascer,
crescer e produzir frutos, ser fecunda, multiplicar-se. Eis o sentido da
Crisma. Para que possa realizar sua vocação e missão batismals, o cristão é
ungido pelo Espirito Santo na Crisma.
Assim como a Páscoa é a
celebração do Batismo, o Pentecostes celebra a Crisma, reavivando na
Comunidade Eclesial o Dom do Espirito Santo, para que possa realizar em sua
vida a mensagem do Evangelho como discípulo e discípula de Cristo, e
contribuir para a construção de um mundo mais justo e mais fraterno. Não está
aqui também o "Pão de Santo Antônio" multiplicado nos cristãos, o
própio Cristo Jesus como Corpo dado e Sangue derramado para que o mundo tenha
vida e a tenha em abundância?
Através de Santo Antônio.
Nosso Senhor está convidando continuamente os cristãos a pensarem no bem do
próximo, a amarem o próximo como a si mesmos e a darem uma atenção especial
ao necessitado, ao pobre. Claro que não se trata apenas do pão de Santo
Antônio, da esmola oferecida ao frade ou ao Convento, com as palavras:
"para os seus pobres".
Esta doação tem também o
valor de um símbolo, de uma celebração, como a contribuição material colocada
na salva na hora da preparação das oferendas. Através da esmola ou da
contribuição colocada em comum, o cristão que deseja ser discípulo de Cristo,
que deseja viver segundo a mensagem do Evangelho, celebra a generosidade e a
dadivosidade do Deus Criador, e a de Jesus Cristo, o Redentor que deu a
própria vida para que os seres humanos tenham vida.
Através de sua oferta, o
cristão celebra a própria vocação de poder imitar a dadivosidade e a
generosidade de Deus criador e de Jesus Cristo, pois como diz Jesus:
"Recebestes de graça, de graça dai" (Mt 10,8). É uma graça poder
dar. poder partilhar.
Dar de graça, ser
generoso, pensar no bem comum, no bem do próximo, promover a vida do próximo,
eis o mistério revelado no símbolo do pão de Santo António. Não se dá apenas
uma esmola. Podemos e devemos dar o trabalho, o tempo, a atenção, o perdão, a
seriedade e a honestidade em nossa ação profissional que vale muito mais do
que o dinheiro.
Sim, o milagre do Pão de
Santo Antônio continua até hoje em seus devotos. Ele nos ensina e nos ajuda a
sermos mais cristãos. Nele manifesta-se a espiritualidade pascal, dos atos de
amor, das ações de serviço ao próximo, da promoção do ser humano, para que
tenha vida e a tenha em abundância.
A devoção a Santo Antônio
constitui elemento integrante da tradição religiosa do povo brasileiro.
Esteve presente desde o Inicio de sua evangelização e continua vivo em nossos
dias. Por isso, na nova evangelização e no aprofundamento da fé cristã do
povo brasileiro, a devoção aos santos em geral e, especialmente, a Santo
Antônio, terá que ser respeitada e cultivada na Pastoral da Igreja no Brasil.
Importa estar atenta ao
que o nosso povo tem como seu e valoriza, para, a partir daí, ajudá-lo a
encontrar sempre mais intensamente a Cristo e chegar por Cristo ao Pai em
comunhão com o Espírito Santo
A nova evangelização no
Brasil passa pelo culto dos santos, e, de modo especial por Santo Antônio,
quando este santo vem apresentado por João Paulo II como um homem
"enamorado de Cristo e do seu Evangelho".
Fonte: franciscanos.org.br
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quinta-feira, 21 de junho de 2012
O Símbolo do Pão de Santo Antônio
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