Deus não ofusca e nem desrespeita a nossa liberdade, de modo que quem o quiser seguir não o faça por conveniência, mas por convicção
O Catecismo da Igreja começa dizendo que “Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em sim mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem aventurada” (§1). Bem-aventurança quer dizer felicidade. Deus nos criou para sermos felizes “forever”, para sempre. O Catecismo da minha Primeira Comunhão dizia: “Deus nos criou para o amar, louvar e servir nesta vida, e gozar com Ele para sempre na outra”.
Ai está o sentido da vida para o cristão. Ele foi criado por Deus, para Deus, para participar da felicidade perfeita e infinita de Deus. Para isso, Deus nos fez “à sua imagem e semelhança”, dotado de inteligência, vontade, consciência, memória, vontade, etc; porque, sem esses atributos o homem não seria “capaz de Deus”, isto é, de saber que Ele existe e que se revelou a nós. Seríamos como os animais irracionais, criados para nos servir.
Pela luz da razão natural, a Inteligência, podemos chegar a Deus, garante a Igreja. E pela vontade podemos o abraçar pela fé. É por meio desta que cada um de nós diz o seu “Sim” a Deus, como a Virgem Maria disse o seu Sim ao Anjo.
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É pela liberdade que mais nos assemelhamos a Deus; sem ela seriamos como os animais, ou como os robôs ou marionetes. Por isso, Deus se revela a nós de maneira tão humilde; para não forçar a nossa liberdade a abraça-lo sem convicção, isto é, por medo, ou por outro motivo qualquer que não seja o amor a Ele. Se Deus aparecesse a nós na sua glória, poder e majestade, nossa liberdade seria “desrespeitada” por ele, não conseguiríamos dizer livremente não a Ele, pois o fulgor da sua grandeza nos dominaria. Se Ele se apresentasse a nós como um Superman, um super astro brilhante…, nossa inteligência seria ofuscada e nossa liberdade eliminada. Então, deixaríamos de ser plenamente livres, sua imagem e semelhança. O renderíamos a Ele pela força de sua majestade, e não pela escolha livre. E sem liberdade não existe verdadeiro amor.
Então, o que Deus faz e fez? Veio a nós como o mais humilde, para não ofuscar e nem ferir a nossa sagrada liberdade; não ameaçar em nós a imagem Dele. Procurou a Virgem mais humilde, no fim do Império Romano, não uma princesa romana; na escondida e longínqua Nazaré, não em Roma; nasceu num estábulo, não num palácio; viveu a pobreza de um carpinteiro, não a riqueza de um nobre; andou de jumentinho, e não de cavalo árabe; chamou os pescadores, e não os doutores, filósofos e generais da época; dormia ao relento e nas grutas da Palestina, não nas cortes reais… e morreu pendurado no madeiro, não num leito real. Deitou-se sobre uma cruz, não sobre um trono real; recebeu uma coroa de espinhos, não uma coroa cravejada de diamantes; morreu entre bandidos, não entre santos; foi vendido como escravo, não acolhido como príncipe… Foi o homem das dores, não dos prazeres…
Isaías não encontrou Deus no terremoto, nem no vendaval, e nem na tempestade no monte Hebron; mas, na suave brisa que os sucedeu… Deus respeita a nossa liberdade ao se revelar.
Não ofuscou e nem desrespeitou a nossa liberdade, de modo que quem o quisesse seguir não fosse por conveniência, mas por convicção, de que Ele tem a doutrina mais santa e sábia e o poder divino de tudo salvar. Que Deus imenso!
Maria, na choupana de Nazaré, lhe disse SIM, irrevogável, irreversível, livremente, sem saber as dores que lhe aguardavam à frente. Foi o SIM de toda a humanidade naquela hora sagrada; e o Verbo pode ser humanado e nos salvar. Agora Ele espera, na fé, o SIM de cada um de nós, consciente e irrevogável, para continuar a salvação do mundo. Mas isso tem de ser livremente, sem que nada e ninguém imponham algo à nossa liberdade. Apenas o Seu amor.
Prof. Felipe Aquino
Fonte: cleofas.com.br
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