quinta-feira, 4 de agosto de 2022

O Sagrado Magistério da Igreja


O que garantiu a unidade da Igreja Católica, sua continuidade até hoje, de maneira ininterrupta, conservando intacto o “depósito da fé”, que recebeu do Senhor, é a sua apostolicidade; isto é, a sucessão apostólica.

Conferindo aos Apóstolos o encargo de dirigir a Igreja em toda a terra, Jesus estabeleceu sobre eles o que chamamos de sagrado Magistério da Igreja, constituído pelo Papa (sucessor de Pedro) e os bispos (sucessores dos Apóstolos) em comunhão com ele. Sem este Magistério oficial, querido por Jesus, o “depósito da fé” já estaria esfacelado, como aconteceu fora da Igreja católica.

Muito cedo a Igreja tomou consciência de que a sua “identidade e missão” estava ligada ao colégio dos Doze Apóstolos, e seus sucessores, os bispos.

Quando nos primeiros séculos surgia uma doutrina nova, às vezes uma heresia, o critério do discernimento era o da apostolidade: “esta doutrina está de acordo com o que ensinaram os Apóstolos? Está em conformidade com o que ensina a Igreja de Roma, onde foram martirizados Pedro e Paulo?”. Essas eram as perguntas mais importantes para se chegar ao discernimento. Isto porque os Apóstolos foram as testemunhas oculares do Senhor e d’Ele receberam diretamente tudo o que Ele ensinou e realizou para a salvação da humanidade.

A Igreja é a sucessora de Israel. O povo de Israel era a posteridade das Doze tribos de Jacó, que Deus chamou de Israel. Da mesma forma a Igreja é a posteridade dos Doze Apóstolos.

Jesus mesmo relacionou a escolha dos Doze com as Doze tribos de Israel, que prefiguravam a Igreja:

“Em verdade vos declaro: no dia da renovação do mundo, quando o Filho do homem estiver sentado no trono da glória, vós, que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19,28).

O livro do Apocalipse revela a Igreja como a Jerusalém celeste construída sobre Doze pedras fundamentais, nas quais “estão escritos os nomes dos Doze Apóstolos do Cordeiro”.

“Levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a cidade santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, revestida da glória de Deus. Assemelhava-se a uma pedra preciosa, tal como o jaspe cristalino. Tinha grande e alta muralha com doze portas, guardadas por doze anjos. Nas portas estavam gravados os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Ao oriente havia três portas, ao setentrião três portas, ao sul três portas, e ao ocidente três portas. A muralha da cidade tinha doze fundamentos com os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro” (Ap 21,12-14).

Essa belíssima revelação que São João teve da Igreja ensina-nos, através dos símbolos da figura apocalíptica, a realidade da Igreja.

As três portas abertas permanentemente para as quatro regiões do mundo são uma imagem da universalidade (catolicidade) da Igreja, de portas abertas para acolher todas as nações e todos os homens.

A “grande e alta muralha” simboliza toda a grandeza, estabilidade e majestade desta Cidade de Deus. Naquele tempo as muralhas significavam toda a grandeza e segurança da cidade. Nessa muralha haviam “doze portas guardadas por doze anjos”, são as doze tribos de Israel, através das quais Deus começou a abrir as portas da salvação para a humanidade.

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O mais importante contudo, é notar que os “doze fundamentos” (alicerces) da muralha traziam “os nomes dos Doze Apóstolos do Cordeiro”. Isto mostra que neles está edificada a Igreja, como disse São Paulo aos efésios:

“Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos Apóstolos…” (Ef 2,20).

Os Bispos são os sucessores dos Apóstolos, que foram testemunhas dos ensinamentos e da Ressurreição de Jesus. Eles estabeleceram os princípios básicos para toda a vida da Igreja, o Credo e a Tradição apostólica. Cada um deles tinha jurisdição sobre as comunidades cristãs fundadas. Vemos São Pedro na Capadócia, na Bitínia, no Ponto, na Samaria, em Antioquia e, por fim, em Roma. São Paulo em Filipos, Éfeso, Corinto, Atenas, Tessalônica, Chipre, Creta, Roma…

Os Apóstolos ordenaram Bispos, seus sucessores, para que a Igreja cumprisse até o fim dos tempos a missão que Jesus lhe confiou:

“Ide pelo mundo inteiro, pregai o Evangelho a toda criatura…” (Mt 28,18).

Os Bispos da Igreja, que hoje são cerca de 4300 (3000 em plena função), embora não tenham sido testemunhas diretas da ressurreição de Jesus, no entanto, pela “sucessão apostólica”, participam do Colégio dos Apóstolos.

Cada Bispo, individualmente, não tem o carisma da infalibilidade, apenas o Bispo de Roma, o Papa, e o Colégio dos Bispos que sucede o Colégio dos Doze Apóstolos. Essa infalibilidade, que na maioria das vezes o Colégio dos Bispos exerceu nos 21 Concílios universais que a Igreja já realizou, se limita à definição de assuntos de fé e de moral.

Ao Colégio dos Doze, Jesus disse:

“Em verdade eu vos digo: tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu” (Mt 18,18).

É com esta autoridade, recebida diretamente de Jesus, que o Colégio episcopal se reúne em Concílios e Sínodos para “ligar na terra” o que é para o bem e a salvação dos fiéis.

Jesus disse que aquele que se recusa a ouvir a Igreja, “seja para ti como um pagão e um publicano” (Mt 18,17).

Aqui Jesus deixou muito claro para os Apóstolos que é a Igreja que tem a palavra final nas decisões das coisas do Reino de Deus. Aquele que recusar a ouvir e obedecer à Igreja, deve ser considerado como um “pagão e um publicano”, isto é, ateu e pecador.

E além disso garantiu aos Apóstolos que ouvi-los é ouvir a Ele mesmo e ao Pai.

“Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita a Mim rejeita; e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou” (Lc 10,26).

Para que a transmissão da Boa-Nova chegasse então aos confins da terra e dos tempos, os Apóstolos foram preparando os pastores das comunidades, seus sucessores. Assim, estava formado o Magistério da Igreja. Vejamos alguns casos:

São Paulo deixa Timóteo como Bispo de Éfeso:

“Torno a lembrar-te a recomendação que te dei, quando parti para a Macedônia: devias permanecer em Éfeso para impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes” (1Tm 1,3).

A principal preocupação de Paulo é com a “sã doutrina” (v.10) que Timóteo deve garantir na comunidade. Esta continua a ser a principal missão do bispo também hoje na Igreja, além de ser para o seu rebanho o pai espiritual e a pedra viva da unidade.

“Por esse motivo eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1,6).

Aqui vemos a ordenação de Timóteo pela imposição das mãos de São Paulo. Até hoje a Igreja repete esse gesto na ordenação dos sacerdotes e bispos, e assim garante a sucessão apostólica.

Paulo Também escolheu Tito para bispo de Creta:

“Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos (sacerdotes) em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei” (Tt 1,5).

Essa passagem mostra que os Apóstolos iam definindo as “normas” da Igreja, que foram formando a sagrada Tradição Apostólica, tão importante e legitima quanto a própria Bíblia.

Para a comunidade de Filipos, São Paulo envia Epafrodito:

“Julguei necessário enviar-vos nosso irmão Epafrodito, meu companheiro de labor e de lutas…” (Fil 2,25).

O autor da Carta aos Hebreus, provavelmente algum dos discípulos de S. Paulo, recomenda os fiéis aos seus dirigentes:

“Sede submissos e obedecei aos que vos guiam (pois eles velam por vossas almas e delas devem dar contas)” (Hb 13,17).

Nos Atos dos Apóstolos, vemos São Paulo despedindo-se emocionado dos anciãos de Éfeso (“não tornareis a ver minha face”) e recomenda-lhes o rebanho, como sua grande preocupação:

“Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o seu próprio sangue. Sei que depois de minha partida se introduzirão entre vós os lobos cruéis, que não pouparão o rebanho” (At 20,28).

Aqui podemos ver com clareza a importância do Magistério da Igreja; guiar e proteger o rebanho de Deus contra os erros de doutrina.

“Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas, com o intento de arrebatarem após si os discípulos” (At 20,30).

Sabemos que já no inicio do cristianismo os Apóstolos tiveram que enfrentar a terrível heresia do gnosticismo, de fundo dualista, o qual negava que Jesus tivesse se encarnado de fato, uma vez que consideravam a matéria como má. Desta forma anulava-se a obra redentora de Cristo.

Nessas palavras de São Paulo vemos toda a importância dos bispos, constituídos pelo Espírito Santo. O mesmo recomenda São Pedro aos pastores:

“Eis a exortação que dirijo aos anciãos que estão entre vós… Velai sobre o rebanho de Deus, que vos é confiado. Tende cuidado dele…” (1Pe 5,1-4).

Logo no início da evangelização, São Paulo dá normas a Timóteo e a Tito de como devem ser os bispos:

“Eis uma coisa certa: quem aspira ao episcopado, saiba que está desejando uma função sublime. Porque o bispo tem o dever de ser irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, regrado no seu proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar. Não deve ser dado a bebidas, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; deve saber governar bem a sua casa, educar os seus filhos na obediência e na castidade. Pois, quem não sabe governar a sua própria casa, como terá cuidado da Igreja de Deus?” (1 Tm 3,1-7).

Também a Tito, a quem São Paulo delega o poder de ordenar outros bispos, ele faz recomendações semelhantes, ao escolher os pastores:

“Sejam escolhidos entre quem seja irrepreensível, casado uma só vez, tenha filhos fiéis…”.

“Porquanto é mister que o bispo seja irrepreensível, como administrador que é posto por Deus. Não arrogante, nem colérico, nem intemperante, nem violento, nem cobiçoso. Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à doutrina da fé como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e a rebater os que a contradizem” (Tit 1,5-9).

Todas essas passagens mostram abundantemente que os bispos foram escolhidos pelos próprios Apóstolos, “constituídos pelo Espírito Santo” (At 20,28), para governar a Igreja.

Nas cartas de Santo Inácio de Antioquia, falecido no ano 107, já encontramos a organização atual da Igreja. Vemos ali um Bispo residente em cada diocese e respondendo por essa parte do rebanho do Senhor.

“Segui ao bispo, vós todos, como Jesus Cristo ao Pai. Segui ao presbítero como aos apóstolos. Respeitai os diáconos como ao preceito de Deus. Ninguém ouse fazer sem o bispo coisa alguma concernente à Igreja. Como válida só se tenha a eucaristia celebrada sob a presidência do bispo ou de um delegado seu. A comunidade se reúne onde estiver o bispo e onde está Jesus Cristo está a Igreja católica. Sem a união do bispo não é lícito batizar nem celebrar a eucaristia; só o que tiver a sua aprovação será do agrado de Deus e assim será firme e seguro o que fizerdes” (Antologia dos Santos Padres, Ed. Paulinas, Pág. 44, 3ª ed. 1979, pág. 43).

Esse testemunho do primeiro século da Igreja mostra bem a sucessão apostólica e a importância do bispo. Já no primeiro século vê-se que sem o bispo, ordenado pelos apóstolos, ou um delegado seu, não se pode celebrar a eucaristia.

No combate aos hereges gnósticos do seu tempo, Santo Ireneu (†202), no primeiro século, dizia:

“Ora, todos esses hereges são de muito posteriores aos bispos, aos quais os Apóstolos entregaram as Igrejas [particulares]… Necessariamente, pois, tais hereges, cegos para a verdade, mudam sempre de direção e disseminam as doutrinas de modo discordante e incoerente. Ao contrário, o caminho dos que pertencem à Igreja cerca o universo inteiro e, possuindo a firme tradição dos apóstolos, faz-nos ver que todos possuímos a mesma fé” (Contra as Heresias).

São do mesmo Santo Ireneu estas palavras que mostram a importância da sucessão apostólica:

“Foi inicialmente na Judeia que [os apóstolos] estabeleceram a fé em Jesus Cristo e fundaram igrejas, partindo em seguida para o mundo inteiro a fim de anunciarem a mesma doutrina e a mesma fé. Em todas as cidades iam fundando Igrejas das quais, desde esse momento, as outras receberam o enxerto da fé, a semente da doutrina, e ainda recebem cada dia para serem igrejas. É por isso mesmo que sejam consideradas como apostólicas, na medida em que forem rebentos das igreja apostólicas.

É necessário que tudo se caracterize segundo a sua origem. Assim, essas igrejas, por numerosas e grandes que pareçam, não são outra coisa que não a primitiva Igreja apostólica da qual procedem. São todas primitivas, são todas apostólicas e todas uma só. Para atestarem a sua unidade, comunicam-se reciprocamente na paz, trocam entre si o nome de irmãs, prestam-se mutuamente os deveres da hospitalidade… Desde o momento em que Jesus Cristo, nosso Senhor, enviou os apóstolos para pregarem, não se podem acolher outros pregadores senão os que Cristo instituiu. Pois ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho tiver revelado”.

E Santo Ireneu conclui dizendo:

“Nestas condições, é claro que toda doutrina em acordo com a dessas igrejas apostólicas, matrizes e fontes originárias da fé, deve ser considerada autêntica, pois contém o que tais igrejas receberam dos apóstolos, os apóstolos de Cristo, e Cristo de Deus” (Contra as Heresias).

Em todos os tempos da história da Igreja as comunidades heréticas e cismáticas procuraram imitar as aparências da sucessão apostólica, tentando enganar o povo. É o caso, por exemplo, das “Igrejas Católicas Apostólicas Brasileiras”, derivada de D. Carlo Duarte, ex-Bispo de Maura, mas que não guarda a comunhão com a Igreja católica. Outro exemplo é o dos Bispos “patriotas” que foram instituídos por governos comunistas e sagrados por um bispo “colaboracionista”. Não estão na sucessão apostólica, pois romperam com o Papa. Assim são também os “bispos” da igreja anglicana, da igreja universal do reino de Deus, etc…

Os protestantes perderam a sucessão apostólica porque romperam com a Igreja dos Apóstolos e seus sucessores. A encarnação do Verbo é uma realidade histórica que se prolonga através da Igreja e da sucessão apostólica. Jesus disse claro aos Apóstolos:

“Estarei convosco até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).

Os Santos Padres da Igreja diziam:

“Ubi Petrus, ibi Ecclesia; ubi Ecclesia, ibi Christus” (Onde está Pedro está a Igreja, onde está a Igreja está Jesus Cristo).

A Igreja reza na santa Missa, no Prefácio dos Apóstolos:

“Pastor eterno, vós não abandonais o rebanho, mas o guardais constantemente pela proteção dos Apóstolos. E assim a Igreja é conduzida pelos mesmos pastores que pusestes à sua frente como representantes de vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso”.

Por esta oração eucarística observamos que a Igreja vê nos seus pastores hierárquicos os “representantes” do próprio Senhor.

Afinal, foi a eles que Jesus disse no momento da sua Ascensão:

“Vós sereis testemunhas de tudo isto” (Lc 24,48).

“Sereis minhas testemunhas… até os confins do mundo” (At 1,8).

Eles, os Apóstolos, foram enviados em missão pelo próprio Senhor.

“Quem vos recebe a Mim recebe. E quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10,40).

Isto mostra porque a hierarquia e o Magistério são sagrados; porque foram desejados e instituídos pelo próprio Cristo.

A Igreja nasceu, cresceu e caminha na “doutrina dos Apóstolos” (At 2,42).

Os bispos – apóstolos de hoje – continuam a mesma missão de Jesus.

“Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20,21).

E Jesus avisa:

“Em verdade em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviei recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Jo 13,20).

E disse ao Pai na oração Sacerdotal, antes de sofrer a Paixão:

“Como tu me enviaste ao mundo também eu os enviei ao mundo” (Jo 17,18).

Jesus os escolheu pessoalmente – e continua a fazê-lo ainda hoje.

“Depois, subiu ao monte e chamou a si os que Ele quis. Designou Doze entre eles para ficar em sua companhia. Ele os enviava a pregar, com o poder de expulsar os demônios” (Mc 3, 13-14).

Desde o início de sua missão, Jesus instituiu os Doze, como diz a “Ad Gentes”: “os germes do Novo Israel e ao mesmo tempo a origem da sagrada hierarquia” (AG, 5).

Jesus associou os Apóstolos à sua própria missão, recebida do Pai. Por isso Ele ensina-lhes que como “o Filho não pode fazer nada por si mesmo” (Jo 5,19.30), mas recebe tudo do Pai que o enviou, da mesma forma eles não podem fazer nada sem Jesus.

“Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).

Portanto, os Apóstolos do Senhor, os bispos hoje, são colocados por Deus como “ministros da Nova Aliança”. É o que São Paulo ensina:

“Ele é que nos fez aptos para ser ministros da Nova Aliança, não a da letra e sim a do Espírito” (2 Cor 3,6).

Segundo São Paulo, os apóstolos são os “embaixadores de Cristo”.

“Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio” (2 Cor 5,20).

E Paulo também os vê como “administradores dos mistérios de Deus”:

“Que os homens vos considerem, pois, como simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1 Cor 4,1).

Foi a eles que Jesus deu o poder de, em Seu Nome, ministrar os sacramentos da salvação. A eles o Senhor enviou a batizar:

“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).

A eles o Senhor delegou o mandato de ensinar:

“Ensinai-os a observar tudo o que vos prescrevi” (28,20).

A eles o Senhor garantiu a sua assistência permanente:

“Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (28,20).

A eles o Senhor deu o poder de perdoar:

“Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,22-23).

A eles o Senhor conferiu o poder de atualizar, “tornar presente”, o seu Sacrifício do Calvário oferecido ao Pai por toda a humanidade, uma única vez:

“Isto é o meu corpo que é dado por vós; fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19-20).

São Clemente (88-97), Bispo de Roma, quarto Papa da Igreja, colaborador de São Paulo (cf. Fil 4,3), na importante Carta escrita aos Corintios, para debelar a rebelião dos fiéis contra os pastores, já no século I expunha as bases da Igreja, mostrando que Jesus Cristo recebeu todo o poder do Pai e incumbiu os Apóstolos de estabelecerem a Hierarquia. Assim, os Apóstolos cumpriram a ordem e puseram à frente das Igrejas, bispos, presbíteros e diáconos como auxiliares, tendo regulamentado a sua sucessão, com normas claras, para que, com a comunidade, fossem escolhidos sempre os melhores.

Vale a pena relermos o que o quarto Papa escreveu já lá no século I:

“Também os nossos Apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade episcopal. Por tal motivo e como tivessem perfeito conhecimento do porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a morte deles outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério. Os que assim foram instituídos por eles, ou mais tarde por outros homens iminentes com a aprovação de toda a Igreja, e serviram de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo com humildade, pacífica e abnegadamente, recebendo por longo tempo e da parte de todos o testemunho favorável, não é justo em nossa opinião que esses sejam depostos de seu ministério” (Cor 42, 1-3).

Nessas palavras do quarto Papa da Igreja, vemos que os sucessores dos Apóstolos, chamados de “homens iminentes”, eram aprovados por toda a Igreja e não podiam ser afastados do ministério. Vemos aí também, o bispo de Roma atuando já como o pastor supremo da Igreja, intervindo na rebelião de Corinto.

São significativas as palavras de São Clemente:

“Os Apóstolos receberam a boa-nova em nosso favor da parte do Senhor Jesus Cristo. Jesus Cristo foi enviado por Deus. Cristo portanto vem de Deus e os Apóstolos de Cristo; essa dupla missão realizou-se pois em perfeita ordem por vontade de Deus… Assim, proclamando a palavra de Deus no interior e nas cidades, estabeleciam suas primícias, como Bispos e Diáconos, dos futuros fiéis, depois de prová-los pelo Espírito Santo” (Cor 42,1-4).

Assim São Clemente mostra-nos que a Hierarquia foi querida por Deus Pai e por Jesus, sendo, portanto, sagrada. Isto mostra a apostolicidade da Igreja e as origens da sucessão apostólica. Fora dessa sucessão que vem diretamente de Cristo, não há legitimidade e infalibilidade para se atuar em seu Nome. A Igreja católica, por graça especial de Deus, guarda intacta essa sucessão.

Falando sobre isso diz o último Concílio:

“Esta missão divina, confiada por Cristo aos Apóstolos deverá durar até o fim dos séculos (Mt 28,20), pois o Evangelho, que eles devem transmitir, é para a Igreja o princípio de toda sua vida, através dos tempos. Por isso os Apóstolos, nesta sociedade hierarquicamente organizada, cuidaram de constituir os seus sucessores. De fato, não só se rodearam de vários colaboradores no ministério, mas, para que a missão a eles confiada tivesse continuidade após a sua morte, os Apóstolos, quase por testamento, incumbiram os seus cooperadores imediatos de terminar e consolidar a obra por eles começada… Constituíram assim os seus sucessores e dispuseram que, por morte destes, fosse confiado o seu ministério a outros homens experimentados” (LG,20).

“Juntamente com o múnus (missão sagrada) de santificar, a consagração episcopal confere ainda os de ensinar e de governar…”. “Pela imposição das mãos e pelas palavras consecratórias, se confere a graça do Espírito Santo e se imprime o caráter sagrado, de tal modo que os Bispos, de maneira iminente e visível, fazem as vezes do próprio Cristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e agem em seu nome” (LG 20).

Entretanto, para que isto seja real é preciso que o Bispo esteja “em comunhão hierárquica com a Cabeça [o Papa] e com os membros do Colégio” (LG 20).

Nenhum fiel é obrigado, e nem pode ser submisso a um Bispo que não esteja em comunhão com o Papa e com os demais Bispos. Cada bispo é escolhido pelo Papa, Vigário de Cristo na terra, Cabeça visível da Igreja, e lhe deve obediência e submissão. Tornou-se célebre na Igreja a expressão: “cum Petro et sub Petro”. É doloroso para toda a Igreja quando um bispo, de qualquer lugar, discorda publicamente do Papa, ou contradiz os seus ensinamentos inspirados pelo próprio Espírito Santo.

Dizer que a Igreja é Apostólica é o mesmo que dizer que ela permanece em comunhão de fé e de vida com a sua origem.

O Catecismo, com palavras claras explica porque é essencial a sucessão apostólica e o Magistério na missão da Igreja:

“Ninguém pode dar a si mesmo o mandato e a missão de anunciar o Evangelho. O enviado do Senhor fala e age não por autoridade própria, mas em virtude da autoridade de Cristo; não como membro da comunidade, mas falando a ela em nome de Cristo. Ninguém pode conferir a si mesmo a graça, ela precisa ser dada e oferecida. Isto supõe ministros da graça, autorizados e habilitados da parte de Cristo. Dele recebem a missão e a faculdade (o “poder sagrado”) de agir “na pessoa de Cristo Cabeça”. A tradição da Igreja chama de “sacramento” este ministério, através do qual os enviados de Cristo fazem e dão, por Dom de Deus, o que não podem fazer nem dar a si mesmos” (nº 875).

Com que autoridade algumas pessoas intitulam a si mesmas de bispos? Quem lhes confiou este mandato, esta graça e esta missão? Sem a sucessão apostólica e o Magistério, o cristianismo fica subjetivo, a mercê do capricho dos homens, sem a garantia e a infalibilidade do Espírito Santo.

Sabemos que todos os batizados participam da missão de evangelizar o mundo. O apostolado é toda a atividade da Igreja no sentido de “estender o reino de Cristo a toda terra” (AA, 2). Porém, é preciso ficar muito claro que ninguém pode evangelizar “por conta própria”, no sentido de fazer um apostolado “independente da Igreja”, sem estar em comunhão com o Bispo da diocese; e, o que seria pior ainda, pregando uma doutrina que não seja aquela oficialmente aprovada pelo Magistério da Igreja.

Todo aquele que evangeliza, seja para uma pessoa ou para multidões, exerce um ministério por delegação da Igreja, e dos Bispos, e portanto não pode ensinar o que quer, mas o que manda a Igreja.

O Papa Paulo VI disse certa vez aos Padres Conciliares:

“A fidelidade ao depósito da Revelação é claro que exige que não se passe em silêncio alguma verdade da fé: o Povo de Deus, confiado aos nossos cuidados, tem o sagrado e inalienável direito de receber a Palavra de Deus, toda a Palavra de Deus” (PR, N.419, abril de 1997, pag.165).

Na Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, o Papa João Paulo II foi mais claro ainda:

“Para ser verdadeira a oblação da fé, aqueles que se tornam discípulos de Cristo têm o direito de receber a palavra da fé não mutilada, falsificada ou diminuída, mas sim plena e integral, com todo o seu rigor e com todo o seu vigor. Atraiçoar em qualquer ponto a integridade da mensagem é esvaziar a própria catequese… Assim a nenhum catequista verdadeiro é lícito fazer, por seu próprio arbítrio, uma seleção no depósito da fé, entre aquilo que considere importante e rejeitar o resto” (CT,30).

Hoje, mais do que nunca, os leigos são chamados a evangelizar, como jamais na história da Igreja; portanto, cresceu muito a responsabilidade de estarmos preparados bem para isso. Infelizmente, ainda existe muita “achologia” nas aulas de religião, catequeses e pregações, onde muitas vezes prevalece mais a opinião particular do catequista, do professor de teologia, etc., do que a doutrina oficial da Igreja ensinada pelo Magistério. E isto acontece principalmente no campo da Moral. Na Encíclica Veritates Splendor, o Papa falou de maneira enfática sobre esta questão:

“A teologia Moral não se pode reduzir a um conhecimento elaborado só no contexto das chamadas ciências humanas. Os princípios morais não são dependentes do momento histórico em que são descobertos. Além disso, o fato de alguns crentes agirem sem observar os ensinamentos do Magistério ou considerarem erradamente como moralmente justa uma conduta declarada pelos seus Pastores contrária à lei de Deus, não pode constituir argumento válido para rejeitar a verdade das normas morais ensinadas pela Igreja. A afirmação dos princípios morais não é da competência dos métodos empíricos formais” (VS, 111).




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