Entenda o que, de fato, foram as Cruzadas que aconteceram na Idade Média
As “Cruzadas medievais” foram as expedições dos cristãos do Ocidente para libertar do domínio muçulmano o S. Sepulcro de Cristo em Jerusalém, que estava sendo destruído pelos turcos otomanos, muçulmanos. Começaram em 1095 e terminam em 1291, quando os turcos retomaram a Terra Santa. Não se pode entender um episódio do passado sem conhecer a mentalidade da época; senão cometemos grande injustiça.
A peregrinação a Jerusalém e aos lugares santos sempre foi uma das expressões de fé mais caras aos cristãos. No séc. IV a lmperatriz Helena, mãe de Constantino, foi à Palestina para descobrir e restaurar os testemunhos da vida, da morte e da ressurreição de Cristo, e ali construiu as grandes basílicas do Santo Sepulcro, da Natividade, da Anunciação e outras. São Jerônimo (†421), resolveu estudar a Bíblia na Terra Santa, estabelecendo-se na gruta de Belém. Aos poucos, no país de Jesus, foram surgindo numerosos mosteiros de homens e mulheres.
No séc. VII a expansão árabe muçulmana arrasou muitas comunidades cristãs na Síria, Palestina, Egito, norte da África, e Espanha em seguida. Jerusalém em 638 foi ocupada e, em parte, transformada em cidade Árabe muçulmana. As condições dos cristãos dali, e dos peregrinos, tornaram-se difíceis. O califa muçulmano Hakim, em 1009 mandou destruir a basílica do S. Sepulcro em Jerusalém e durante dez anos moveu perseguição a cristãos e judeus. Em 1071 Jerusalém caiu nas mãos dos Turcos seldjucitas. Os cristãos sofreram opressão, prisão, torturas, sequestros e mortes. Note, então, que toda violência, começou com os muçulmanos, e os cristãos agiram em legítima defesa.
O povo na Idade Média era profundamente cristão. Os valores da fé eram, o que fazia que a vida valesse a pena de ser vivida. E já havia as grandes Universidades de Paris (Sorbone), Oxford, Bolonha, Nápoles, etc. fundadas pela Igreja. Tudo que se ligasse com a fé, revestia-se de grande significado para os medievais.
Havia nessa época os famosos Cavaleiros, que serviam a Deus na bravura destemida, e até mesmo na guerra, quando a honra de Deus exigia a intervenção da espada. Eram como que “monges armados” que faziam voto de pobreza, obediência e castidade. Criaram-se assim as “Ordens militares” como os Templários e outras. Nestas o Cavaleiro se consagrava a Deus para O servir com destemor.
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Sobre os Templários, dizia S. Bernardo († 1153): “Não sei se os devo chamar monges ou cavaleiros; talvez seja necessário dar-lhes um e outro nome, pois eles unem, à brandura do monge a coragem do cavaleiro” (De laude nova emilidae (IV,8).
O entusiasmo da fé explica que as multidões se prontificaram a partir para terras longínquas, desconhecidas, sujeitas a surpresas e ciladas, sem reabastecimento seguro, sem guias peritos, sem planos de viagem muito definidos, mas conscientes de que Deus o queria – “Deus lo volt”, foi o brado que no Concílio de Clermont, no ano de 1095, convocado pelo Papa Urbano II, deu origem às Cruzadas. Costuravam uma cruz de pano vermelho no ombro direito e partiam na fé.
Infelizmente, as ideias religiosas dos primeiros cruzados foram sendo, aos poucos, no decorrer de dois séculos, destruídas, de sorte que a imagem do Cavaleiro se foi modificando. Essa é a imagem que predomina em certos tratados sobre as Cruzadas.
Muitos pregadores puseram-se a percorrer a Europa, incitando os homens a participar. Grande multidão de ouvintes, de origem social diversa, assumiu então a cruz. Os expedicionários, provenientes da França, da Inglaterra, da Itália, eram dotados de benefícios espirituais pelo Papa; a quem ousasse violar ou roubar as suas propriedades durante a respectiva ausência, sofreria a pena de excomunhão.
Uma primeira Cruzada Popular, chefiada por Pedro o Eremita e Gualtero “sem Haveres”, fracassou, pois os seus membros ou pereceram na estrada ou foram exterminados pelos turcos. Foram afoitos e mal preparados.
A primeira Cruzada séria foi em 1096; quatro exércitos de senhores feudais chegavam a Constantinopla: Balduíno de Hainaut e Godofredo de Bouillon; os franceses do norte, da Normandia e os normandos da Itália. A cidade de Nicéia, perto de Constantinopla, foi reconquistada dos turcos, e voltou a ser domínio do lmperador bizantino. Após dois anos e meio de lutas os cruzados venceram o exército do califa Solimão em Doriléia e tomaram as importantes cidades de Edessa (1097) e Antioquia (1098), chegaram finalmente a Jerusalém e dela se apoderaram (1099). Essa sangrenta expedição custou a vida a cerca de meio-milhão de homens, terminou com a fundação de quatro centros latinos: o reino de Jerusalém, o principado de Antioquia, os condados de Edessa e de Trípolis, aos quais foram atribuídos governantes latinos. As grandes cidades da costa palestinense foram ocupadas por navegantes e comerciantes ocidentais. Os peregrinos recomeçaram a afluir à Terra Santa. Para protegê-los e defendê-los, foram criadas as Ordens de Cavaleiros Militares (Hospitalários, Templários, etc.).
Houve outras Cruzadas porque os territórios latinos no Oriente eram constantemente ameaçados. A segunda foi em 1147 porque os turcos reconquistaram e destruíram Edessa. Exortados por S. Bernardo, o rei de França, Luís VII, e o da Germânia, Conrado III, uniam suas tropas num só exército. Mas não conseguiram tomar nem Damasco, e regressaram sem êxito em 1149.
A terceira Cruzada foi em 1190. O sultão Saladino apoderou-se de Jerusalém em 1187. Por um apelo do Papa Urbano III, o rei Filipe Augusto da França, Frederico Barbaroxa da Alemanha, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, se uniram e partiram. Mas Frederico morreu afogado no rio Cydnus (Cilícia), o que provocou a dispersão do seu exército (1190). Os reis da França e da Inglaterra dirigiram-se por mar a S. João de Acre, que conseguiram ocupar em 1191. Embora lutassem juntos, os reis não eram unidos. Filipe Augusto, doente, voltou à Europa, e Ricardo também voltou em 1192.
Na quarta Cruzada o Papa Inocêncio III (1198-1216) aspirava a libertação de Jerusalém. Mas a Cruzada se afastou da sua orientação, sob a influência de Filipe da Suábia, de Veneza e dos gregos. Os cruzados conquistaram Constantinopla fazendo da mesma a capital de um Império latino, que durou até 1261, quando Miguel o Paleólogo retomou Constantinopla.
A quinta Cruzada, de 1219 a 1221, foi assumida por alemães e húngaros, que se dirigiram para o Egito; mas a cheia do Nilo obrigou-os a retirar-se. Na sexta Cruzada, chamada de “peregrinação sem fé” (1228-1229), o rei Frederico II, excomungado pelo Papa, resolveu empreender uma Cruzada, não tanto para libertar o S. Sepulcro, quanto para unir em sua pessoa os títulos de Imperador da Alemanha e rei de Jerusalém; obteve do sultão do Egito, por dez anos, o domínio sobre Jerusalém, Belém e Nazaré. Terminado esse prazo, Jerusalém recaiu nas mãos dos Árabes.
A sétima e oitava Cruzadas foram realizadas pelo grande rei São Luís IX, da França, para reconquistar a Cidade Santa. Em 1248, atacou o sultão Eyoub no Egito. Como em 1221, também dessa vez os cristãos tomaram Damieta, mas caíram diante de Mansourah. Foram todos encarcerados, só conseguindo a liberdade mediante enorme preço de resgate.
Em 1270, S. Luís renovou seus esforços, conseguindo a muito custo constituir um exército para empreender nova expedição. Mas o rei atingido de peste, faleceu em 25 de agosto de 1270. Após estes fatos, a pressão dos exércitos turcos se intensificou. Em 1291 encerrou-se a era das Cruzadas.
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É verdade que também houve as “Cruzadas das crianças”?
Houve ainda as “Cruzadas das crianças”, significativa do espírito da época. Em 1212, um jovem pastor, chamado Estêvão, dizendo-se enviado por Deus, convocou as crianças da França para uma Cruzada. O exército de 30.000 jovens embarcou em Marselha. Dois condutores de frota haviam se comprometido a transportá-los ao Oriente gratuitamente; todavia venderam-nos aos mercadores de escravos no Egito. A maioria dos participantes morreu; um pequeno número recuperou mais tarde a liberdade.
Na mesma época, na Alemanha, vinte mil jovens, dirigidos por Alexandre, imperito, fracassaram.
Na verdade as Cruzadas não foram um fracasso ou um contra-testemunho dos cristãos. Não se pode deixar de sublinhar em primeiro lugar o que de positivo as Cruzadas representam. A fé e o amor dos cristãos, na Idade Média, demonstraram a grandeza do seu amor a Cristo. E, além disso, as Cruzadas trouxeram benefícios no plano cultural e científico. O contato entre latinos, gregos (bizantinos) e árabes trouxe um avanço na matemática, medicina, indústria, comércio e outros ramos das atividades humanas; desenvolveu a navegação e modificou as condições econômicas da sociedade feudal. Preparou o grande surto das artes e das ciências exatas nos séculos XV/XVI.
Entendendo bem o contexto medieval, as Cruzadas não foram uma “mancha negra”; ao contrário, atestam – segundo o contexto da época – a unidade dos povos da Alta Idade Média, que encontraram na sua fé a força para realizar façanhas heroicas, porém marcadas as limitações humanas. O homem moderno não consegue compreender o que isto significava para o homem medieval.
Prof. Felipe Aquino
Fonte: cleofas.com.br
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