“Tendo Jesus encontrado um jumentinho, montou nele segundo o que está escrito: ‘Não temas filha de Sião, eis que vem o teu rei montado num jumento de jumenta’” (Zc 9,9)
Jesus entra em Jerusalém aclamado como o filho de Davi, aquele que traz a salvação (“‘Hosana’ quer dizer salva-nos!”). O “Rei de Glória” (Sl 24) entra em sua cidade “montado em um jumento” (Zc 9,9): não conquista a Filha de Sião figura de sua Igreja, pela astúcia nem pela violência, mas pela humildade que dá testemunho da Verdade. Os súditos de seu Reino, nesse dia, são as crianças e os “pobres de Deus”: “Bendito seja o que vem em nome do Senhor” (Sl 118,26).
A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias vai realizar pela Páscoa de sua Morte e de sua Ressurreição. A entrada “solene” em Jerusalém foi um prelúdio de Suas dores e humilhações.
Esse povo tinha visto Jesus ressuscitar Lázaro há poucos dias e estava maravilhado. Ele tinha a certeza de que este era o Messias anunciado pelos profetas; mas esse mesmo povo tinha se enganado no tipo de Messias que Cristo era. Esperavam um Messias político, libertador social que fosse arrancar Israel das garras de Roma e devolver-lhe o apogeu dos tempos de Davi e Salomão e dominar todo o mundo.
Para deixar claro a este povo que Ele não era um Messias temporal e político, um libertador efêmero, mas o grande “Libertador do pecado”, a raiz de todos os males, então, o Senhor entra na grande cidade, a Jerusalém dos patriarcas e dos reis sagrados, montado em um jumentinho; expressão da pequenez terrena. Ele não é um Rei deste mundo!
São João diz que “Os seus discípulos a principio não compreendiam essas coisas, mas quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isso estava escrito a seu respeito” (Jo 12,16).
Era a semana da Páscoa dos judeus, e Jesus, por vontade própria, “apressa o passo rumo à sua venerável e feliz Paixão, para levar à plenitude o mistério da salvação dos homens”, disse Santo André de Creta (Sermão 9 sobre o Domingo de Ramos).
Montado no jumentinho ele segue para Jerusalém, a cidade de “Davi, seu pai” (Lc 1,32); e os cânticos do povo eram claramente messiânicos. O povo simples conhecia essas profecias sobre o Messias, e Jesus aceita a aclamação por que era para Ele mesmo. Os fariseus, que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria: “Mestre, repreende os teus discípulos”. Mas o Senhor disse-lhes: “Digo-vos que, se estes se calarem, as pedras clamarão” (Lc 19, 39-40).
“Aproximando-se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!… Mas não, isso está oculto aos teus olhos. Virão sobre ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; destruir-te-ão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada” (Lc 19,41-44).
Jesus chorou diante da impenitência de Jerusalém, que se afunda no pecado, a quem Ele tinha oferecido tudo. Existe lá hoje, neste lugar a igreja chamada “Dominus flevit” (Lágrimas do Senhor).
Diante de cada pecador que não se arrepende, e a quem Ele oferece tudo, Jesus continua chorando… Tantas vezes Jesus saiu ao nosso encontro, tantas graças derramou sobre a nossa vida! Como um Cordeiro inocente e imolado conquistou-nos a salvação, derramando livremente o seu sangue, e nos arrancou da escravidão do demônio e do pecado. Mas, será que nós também não fechamos o nosso coração como Jerusalém, querendo um Messias diferente, social, adequado ao mundo, sem a cruz?
São Paulo disse: “O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim (Gal 2, 20)”. Conta-se que Ele teria dito a Madre Teresa: “Teresa, Eu quis…, mas os homens não quiseram”.
Sabemos que aquela “entrada triunfal” de Jesus em Jerusalém foi bastante precária para muitos. As palmas dos Hosanas murcharam rapidamente. Cinco dias depois o povo gritava furioso: “Fora, fora, crucifica-o… Não temos outro rei além de César! Antes o aclamavam, agora o flagelam, coroam-no de espinhos, o crucificam, e dividem as suas vestes. Era a decepção de um povo que queria um Messias grandioso, libertador político, e recebe um Messias que vai dizer a Pilatos: ‘O meu Reino não é deste mundo!’”.
Aqui está toda a razão da decepção. Esse povo sempre o quis faze-lo Rei, mas Ele sempre se esquivou porque não era este o seu reino. Ele não veio para derrubar César e Pilatos, mas veio para derrubar um inimigo muito pior e invisível: o pecado. E para isso é preciso se imolar; aceitar a Paixão, passar pela morte para destruir a morte; perder a vida para ganhá-la. A muitos o Senhor Jesus decepcionou. E hoje ainda decepciona a muitos que ainda sonham com um Messias poderoso socialmente. Mas Ele continua nos dizendo “Meu Reino não é deste mundo!”. Esta foi a frase que mudou a história do mundo. Milhares deixaram a vida fácil das cidades e foram ser eremitas, monges, cenobitas… nos desertos; milhares derramaram seu sangue por este Reino que não é deste mundo, milhares de mulheres e homens abandonaram tudo pelo Reino que não é terreno. Foi a revolução de Jesus. A entrada em Jerusalém montado num burrinho, que decepcionou a tantos, índica isso.
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O Catecismo da Igreja não nos deixa ser iludidos e enganados:
“A Igreja só entrará na glória do Reino por meio da derradeira Páscoa, em que seguirá seu Senhor em sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal, que fará sua Esposa descer do Céu” (n.677).
“Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma provação final que abalar a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra desvendará o “mistério de iniquidade” sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne” (n.675).
O Domingo de Ramos ensina-nos que a luta de Cristo e da Igreja e, consequentemente, a nossa também, é a luta contra o pecado, a desobediência à Lei sagrada de Deus, que hoje é calcada aos pés até mesmo por muitos cristãos que preferem viver um Cristianismo “light”, adaptado aos seus gostos e interesses e segundo as suas conveniências. Impera, como disse Bento XVI, “a ditadura do relativismo”. O Domingo de Ramos nos ensina que seguir o Cristo é renunciar a nós mesmos, morrer na terra como o grão de trigo para poder dar fruto, enfrentar os dissabores e ofensas por causa do Evangelho.
Jesus veio ao mundo para implantar o Reino de Deus. “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,14-15). Ele quer reunir os homens em torno de seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, que é na terra “O germe e o começo do Reino de Deus” (LG, 5). E isso acontece sobretudo pelo grande mistério de sua Páscoa: sua morte na Cruz e sua Ressurreição. “E eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32).
O Reino pertence aos “pobres de espirito” (Mt 5,3), aos pequenos, aqueles que são como as crianças, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde; foi aos “pequenos” que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos. Jesus convida os pecadores à mesa do Reino: “Não vim chamar justos, mas pecadores” (Mc 2,17). Convida-os à conversão, sem a qual não se pode entrar no Reino, mas mostrando-lhes, com palavras e atos, a misericórdia sem limites do Pai por eles e a imensa “alegria no céu por um único pecador que se arrepende” (Lc 15,7). A prova suprema deste amor será o sacrifício de sua própria vida “em remissão dos pecados” (Mt 26,28).
Jesus convida a entrar no Reino por meio das parábolas, convida a festa do Reino, mas exige também uma opção radical: para adquirir o Reino é preciso dar tudo; as palavras não bastam, são necessários atos. É preciso entrar no Reino, isto é, tornar-se discípulos de Cristo para “conhecer os mistérios do Reino dos Céus” (Mt 13,11). Para os que ficam “de fora” (Mc 4,11), tudo permanece enigmático.
Jesus acompanha suas palavras com numerosos “milagres, prodígios e sinais” (At 2,22) que manifestam que o Reino está presente nele. Atestam que Jesus é o Messias anunciado. Os milagres que ele opera testemunham que o Pai o enviou; são as suas credenciais. Não se destinam a satisfazer a curiosidade e os desejos mágicos; não veio para abolir todos os males da terra, mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado, que os entrava em sua vocação de filhos de Deus e causa todas as suas escravidões humanas. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! (Jo 1,29).
A inauguração do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós” (Mt 12,28). Jesus expulsa o demônio e liberta os homens do seu domínio. É uma antecipação da grande vitória de Jesus sobre “o príncipe deste mundo”. É pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus será definitivamente estabelecido: “Deus reinou do alto do madeiro”.
Desde o início de sua vida pública, Jesus escolhe os Doze apóstolos para estar com Ele e para participar de sua missão; dá-lhes participação em sua autoridade “e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar” (Lc 9,2). Permanecem eles para sempre associados ao Reino de Cristo, pois Jesus dirige a Igreja por intermédio deles: “Disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Lc 22,29-30).
No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar. Jesus confiou-lhe uma missão única. (Mt 16,16-20). “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as Portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: o que ligares na terra será ligado nos Céus, e o que desligares na terra será desligado nos Céus” (Mt 16,19). O “poder das chaves” designa a autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja. “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15-17).
Prof. Felipe Aquino
Fonte: cleofas.com.br
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