domingo, 26 de maio de 2024

São Filipe Néri


Filipe Néri nasceu em San Pier Gattolino, próximo à cidade de Florença, Itália, no ano de 1515. Sua família era rica. Ficou órfão de mãe muito cedo, e ele e sua irmã Elisabete foram educados pela madrasta. Criança, era conhecido pela alegria, lealdade, inteligência e bondade, ganhando o apelido de Pippo il Buono, “Filipe o bom”.

Estudou e trabalhou com o pai, um tabelião, e embora frequentasse normalmente a igreja, não aparentava vocação religiosa. Quando fez 18 anos, recebeu o convite de um tio para trabalhar em São Germano, na região de Monte Cassino, sul de Roma. Ali, por contato e influência dos monges beneditinos da famosa abadia de Monte Cassino, decide, ao contrário do jovem rico que não seguiu Jesus (Mt 19,16-30), abandonar as riquezas para se entregar a Deus.

Foi para Roma sem dinheiro e sem projeto algum, confiando na Divina Providência. Foi recebido por uma família, na qual ajudou a criar os dois filhos, que se tornaram sacerdotes. Estudou Filosofia e Teologia com os agostinianos, e passou a viver austeramente, alimentando-se só de pão, água e legumes, dormindo pouco e dedicando-se longamente à oração e adoração. Por fim vendeu sua biblioteca, deu os bens aos pobres e passou a viver a maior parte do tempo nas igrejas e catacumbas.

Iniciou o hábito da “Visitação das Sete Igrejas” – Giro delle Sette Chiese. Passava a maioria das suas noites nas catacumbas da cidade. No tempo livre, dedicava-se com alegria à ajuda e pregação aos pobres, órfãos, doentes e prisioneiros.

Certa noite, a caminho de levar alimentos a um desvalido, foi salvo pelo anjo da guarda de cair num profundo buraco – não o seu anjo, mas o da pessoa a quem ia ajudar: Deus quis assim mostrar quanto Lhe era agradável a esmola que ia fazer.

Em 1544, na Vigília de Pentecostes, na catacumba da Basílica de São Sebastião, pediu ao Espírito Santo os Seus dons; uma bola de fogo entrou-lhe pela boca e fez arder de tal modo o seu coração, que este se dilatou, deslocando duas costelas (fato constatado por uma autópsia) e formando uma protuberância visível no seu peito. Mas ele nunca sentiu qualquer dor.

Fundou a Irmandade da Santíssima Trindade, em particular para acolher os romeiros que visitavam a cidade, particularmente os doentes e pobres, oferecendo hospedagem e tratamento gratuitos, com o auxílio de 15 companheiros. No início de cada mês, Filipe convidava o povo para a Adoração Eucarística, e embora fosse leigo pregava admiravelmente; muitas eram as esmolas recebidas para a Irmandade, à qual ficavam honrados de pertencer cardeais, bispos, reis, princesas, generais e ministros. Seu exemplo estimulou muitas vocações religiosas; e Santo Inácio de Loyola, que o conheceu, dizia que ele parecia um sino, levando todos para dentro da Igreja, enquanto ele mesmo não entrava… Filipe achava-se indigno.

Afinal, com 36 anos, obediente ao seu confessor, foi ordenado sacerdote em 1551 e designado para a igreja de São Jerônimo da Caridade. E desejou ir para as Índias e morrer como mártir. Mas São João Evangelista apareceu-lhe para dizer que sua missão era em Roma.

Assim, fundou ali a Congregação do Oratório, chamando outros homens distintos pelo saber e piedade para participarem. A origem foi o Oratório do Divino Amor, onde reunia jovens para cantar e rezar, ele mesmo um apaixonado da poesia e música; o drama lírico com coro e orquestra foi desenvolvido. Nas reuniões dos adultos, frequentadas por todo o clero e pelos fiéis, fazia profundas reflexões a partir da Summa Teologica de São Tomás de Aquino, seus estudos universitários e experiência particular.

Seu sucesso despertou a inveja, e daí a perseguição, que culminou numa falsa acusação às autoridades eclesiásticas: Filipe foi suspenso das suas ordens sacerdotais e impedido de celebrar a Missa, ministrar a Eucaristia e pregar. Em resposta, dizia: “Como Deus é bom, que assim me humilha!”. Mas, seu principal inimigo, cardeal Virgilio Rosario, acabou por se retratar, publicamente, e se tornar seu discípulo. A suspensão foi retirada, e o Papa, São Pio V, quis torná-lo cardeal, oferta que Filipe recusou.

Sua vida sacerdotal era exemplar. Passava grande parte do dia no confessionário. Suscitou vocações, como a de César Barônio († 1607), autor de “Anais Eclesiásticos”, obra de extremo valor histórico e espiritual por compilar com exatidão fatos pretéritos da Igreja. Para não entrar em êxtase, o que era frequente, Filipe pedia companhia para rezar a Liturgia da Horas. Podia ver a santidade no rosto dos outros, como disse por exemplo para São Carlos Borromeu e Santo Inácio de Loyola.

Fez vários milagres, o principal a ressurreição do jovem e doente Paolo Massimo, em 16 de março de 1583. Atrasado para lhe ministrar os últimos sacramentos, encontrou o rapaz morto, mas ao falar o seu nome ele voltou à vida; recebendo o viático e as últimas assistências espirituais, o moço morreu.

Assim, aos poucos Roma foi se transformando, afastando-se da devassidão e paganização, e Felipe Néri ficou conhecido como “Apóstolo de Roma”.

Por seus jejuns e orações, acompanhado por Barônio, confessor do Papa Clemente VIII, conseguiu que este perdoasse pela segunda vez a heresia calvinista do rei Henrique IV, evitando assim que toda a França caísse na apostasia.

No final da vida, entrava em êxtase durante a celebração da Santa Missa, ficando seu corpo elevado até 45 cm do chão. Por isso, o Papa o consultava em decisões importantes, e também quis beijar as suas mãos.

Em 1594, idoso e doente, cria-se que em breve morreria. Mas os médicos, saindo do seu quarto, ouviram sua exclamação: “Ó minha Senhora, ó dulcíssima e bendita Virgem! Não sou digno, não sou digno de Vós, ó dulcíssima Senhora, que venhais visitar-me!”. Voltando, encontraram Filipe elevado sobre o leito: “Não vistes a Santíssima Virgem, que me livrou das dores?”.

Levantou-se, curado, e só veio a falecer no ano seguinte, no dia de Corpus Christi, após prever o horário de sua morte. Deitou-se na cama, em perfeita saúde, e disse “Eu preciso morrer”. Três horas depois, faleceu serenamente, assistido pelo cardeal Barônio.

São Filipe Néri é conhecido como o santo da alegria e da caridade, e padroeiro dos educadores e comediantes.

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