domingo, 25 de agosto de 2024

Santo Luiz Nono


Luís nasceu no Castelo de Poissy, próximo a Paris, França, em 1214. Foi o quarto filho de Luís VIII, conhecido como “O Leão” pelo seu zelo religioso e bravura marcial, e Branca de Castela, filha, sobrinha, esposa, irmã e tia de reis. Os pais muito se esmeraram na sua educação, proporcionando-lhe ótimos preceptores. Branca repetia a Luís: “Meu filho, eu gostaria muito mais de ver-te na sepultura, do que maculado por um só pecado mortal”.

Em 1226, voltando de uma campanha vitoriosa sobre os hereges albigenses do sul da França, Luís VIII faleceu em Montpellier. Seus últimos desejos incluíam que o filho, então com 12 anos, fosse coroado e a esposa o tutelasse. Assim, a 30 de novembro deste ano, Luís IX herdou o trono, e apesar da pouca idade já possuía bastante sabedoria. Como regente, Branca teve que enfrentar as ameaças inglesas, as pretensões da nobreza feudal francesa e uma nova revolta dos albigenses.

Em 1234, com 20 anos, Luís IX pôde assumir formalmente o governo da França. Manteve, porém, Branca ao seu lado, obediente e respeitoso. No ano seguinte casou-se com Margarida, filha de um conde, com quem foi muito feliz e teve dez filhos, cinco meninos e cinco meninas.

Como os seus próprios pais, Luís IX teve todo o interesse na educação dos filhos, instruindo-os pessoalmente no desprezo pelas vaidades e prazeres do mundo e no amor a Deus. Normalmente os chamava ao seu quarto à noite, depois da oração das Completas, educando-os na piedade. Ensinou-lhes a rezar diariamente o Pequeno Ofício de Nossa Senhora, os fazia ir às Missas de preceito e os explicava a necessidade da mortificação e da penitência. Às sextas-feiras, não permitia que usassem ornamentos na cabeça, pois foi o dia da coroação de espinhos de Nosso Senhor. Manuscritos de instruções que deixou para sua filha Isabel, futura rainha de Navarra, nada deixam a dever a nenhum esclarecido diretor espiritual.

Luís era humilde e penitente, buscando a oração e a caridade. Quando alguns nobres o criticavam por participar diariamente da Santa Missa, respondia, não sem ironia: “Se eu dedicasse tempo dobrado para os jogos ou para a caça, ninguém repreenderia!”

Seu governo foi tão excelente como a sua educação aos filhos. Enquanto os demais reinos europeus e alhures passavam por convulsões, a França teve o seu período mais pacífico e próspero da monarquia. Baniu com sabedoria hábitos ruins, como a blasfêmia e os juramentos ímpios, e com tal rigor que o Papa Clemente IV procurou atenuá-lo. Acabou também com os duelos, os jogos de azar e as casas de prostituição. À sua irmã, a beata Isabel, deu as terras de Longchamp para a construção de uma abadia das Irmãs de Santa Clara.

Procurou pacificar e reconciliar conflitos, em particular entre a França e a Inglaterra. Tinha cuidados especiais para com a boa administração dos bens do Estado e a aplicação da Justiça. Por exemplo, os juízes designados para as províncias do reino não podiam ali adquirir bens, nem seus filhos serem por eles empregados, de modo a evitar injustiças locais. E nomeava juízes extraordinários para examinar sua conduta e rever seus julgamentos: em caso de desonestidade, primeiro punia-se com severa penitência, como se fôra ele mesmo o responsável, e depois aplicava uma punição também severa e adequada. Mas aos magistrados honestos e honrados, premiava com largueza e promovia a funções mais altas. Frequentemente exercia pessoalmente a justiça, sem demora ou burocracia, em audiências abertas a todos após a Missa, sob um carvalho no bosque de Vincennes, local que por isso ficou famoso.

Cuidava dos pobres com solicitude. Apoiou as corporações de ofício, regulando os seus costumes, de modo a prover estrutura e estabilidade às organizações do povo, valorizando a sua autonomia. Fundou hospitais e mosteiros; a um monge tomado pela lepra, visitava regularmente, levando alimentos melhores e ajudando-o a comer, dando-os na boca do enfermo. Construiu a Sainte-Chapelle, santuário embelezado para receber relíquias, sobretudo a Coroa de Espinhos de Jesus que adquiriu do imperador de Constantinopla Balduíno II.

Junto a Robert de Sorbon, fundou em 1257 a Universidade de Sorbonne, e acompanhou com grande atenção o acabamento da Catedral de Notre-Dame. Convidava São Boaventura e São Tomás de Aquino para a sua mesa, bem como São Domingos e São Francisco de Assis. Considerava os religiosos instrumentos de Deus para combater as heresias, projeto ao qual dedicou extremo zelo, aliado ao estabelecimento da Fé e da disciplina cristã.

Em meio às suas obrigações de Estado, recitava diariamente as Horas Litúrgicas, lia assiduamente a Sagrada Escritura e os Padres da Igreja. Confessava frequentemente, exigindo que o sacerdote o açoitasse com um flagelo trazido por ele mesmo, e não permitia que este o chamasse de “majestade”, pois neste Sacramento não era rei mas filho, e o confessor não lhe era súdito mas pai.

Em 1245 Luís ficou gravemente doente. O povo, que o amava, organizou vigílias, procissões e outros atos piedosos, intercedendo a Deus pela sua recuperação. Ele fez o voto de, se curado, ir resgatar a Terra Santa aos muçulmanos. E isto foi possível em 1248, com o início da VII Cruzada. A armada chegou ao Egito em 1249, e a cidade de Damietta foi capturada. Seguiram para o Cairo e depois Mansourah, defendida pelos muçulmanos. Um ataque precipitado de Robert de Artois, que liderava parte das tropas, sem esperar o auxílio dos demais, e a sua decisão de perseguir os inimigos dentro da cidade, onde os cruzados ficaram separados e encurralados nas ruas estreitas, levou à derrota completa. Em Damietta, cercados, sem reabastecimentos ou ajuda, a fome e depois a doença, provocada pelo apodrecimento de grande quantidade de cadáveres, que acometeu também Luís, levaram os cristãos a se renderem, e ele foi capturado.

Luís foi liberto mediante rico resgate, e permaneceu no Oriente Médio por mais quatro anos, supervisionando a reforma de várias fortificações cristãs. Em 1252, recebeu a notícia do falecimento da sua mãe e voltou à França, onde chegou em 1254. Tratou então da administração e organização do reino, conseguindo um acordo de paz com Henrique III da Inglaterra em 1258. A partir de 1267, com o apoio do Papa Clemente IV, Luís iniciou a convocação para a VIII Cruzada. Em 1270 os combatentes chegaram a Cartago, mas, mais uma vez, a falta de provisões, e de água potável, favoreceu o surgimento de doenças, morrendo Jean Tristan, filho de Luís. O rei, também doente, ainda procurou com esforço instruir os outros filhos que lá estavam, especialmente o herdeiro Filipe. Na véspera da sua morte, pediu a Sagrada Comunhão e quis ser colocado no chão, sobre cinzas e com os braços em cruz. Faleceu em 25 de agosto de 1270, após um mês de tormentos.



São Luís IX foi um dos primeiros leigos a ser canonizado, à parte os mártires dos primeiros séculos. Em sua sepultura, foram registrados milagres e curas. Ele é Padroeiro dos Terciários Franciscanos.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São Luís IX é, em tudo, um modelo para os homens públicos de todos os tempos, incluindo e enfatizando este nosso século. Naturalmente, antes de ser um “homem público”, é um homem particular, isto é, suas qualidades sociais são necessariamente fruto do seu empenho na santificação pessoal. Não existe outo caminho para as relações humanas felizes. E a santificação começa, também obrigatoriamente, pela humildade. Esta não significa um “apequenar-se” medroso, por fraqueza, da pessoa, mas lidar responsavelmente com o que lhe cabe fazer. Tanto um médico quanto um pedreiro, por exemplo, podem ser bons, educados, honestos e competentes nas suas respectivas funções. Assim, São Luís não deixou de exercer as suas prerrogativas – e obrigações – de autoridade, mas a utilizou de forma correta e para os objetivos corretos. Sendo humilde, submeteu-se, com o valor e esforço indispensáveis, aos ensinamentos de Deus, através da Santa Igreja, acolhendo e obedecendo à graça. E por isso obteve o resultado admirável, ficaríamos tentados a dizer quase milagroso, de dominar as próprias paixões e manter a inocência e pureza de coração, em meio a todas as honrarias e fáceis tentações de poder e prazer inerentes à sua condição de monarca absoluto, num dos países mais ricos do mundo, e a quem não se costuma ousar contradizer. Um exemplo disso é que, possuindo os mais altos títulos da nobreza, assinava os documentos simplesmente com “Luís de Poissy”, cidade onde recebera o Batismo. Ele considerava, e estava certo, que a sua maior dignidade era a de ter sido batizado, remido da mancha do Pecado Original, e ter sido recebido por amor gratuito na família dos filhos de Deus. Pela humildade, obteve o governo de si próprio, dos filhos, do Estado. As consequências dessa livre escolha estabeleceram na França um dos seus melhores períodos na História, talvez o melhor. Em tudo Luís promoveu a equidade, paz e progresso: na cultura, nas questões de trabalho, na justiça, na organização; na busca de acordos conciliatórios e nas necessidades de guerra; na moralidade de comportamento na corte e no país, no combate às heresias, no apoio às necessidades da Igreja e na evangelização. Como base, investiu na espiritualidade, na caridade, na convivência com santos. Parece significativo que respeitasse particularmente as sextas-feiras, dia da coroação de espinhos de Jesus, e obtivesse esta mesma Coroa. E, literalmente, em mais de um sentido. Físico, como relíquia santa, e na participação dos sofrimentos, na cruz que teve de suportar, exatamente por combater o bom combate na reivindicação da Terra Santa. Mas não pereceu pela falta da água batismal ou do alimento eucarístico; e por isso a sua morte não foi doença espiritual, mas experiência de ressurreição.

Oração:

Ó Senhor da Glória, que tudo governais com perfeição, concedei-nos pela intercessão de São Luís IX a humildade verdadeira e o desejo de Vos servir, em tudo buscando discernir a Vossa vontade e priorizando as necessidades e ensinamentos da Igreja, para realizar com maturidade espiritual aquilo o que nos destinais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Nenhum comentário: