Nicolau nasceu na pequena cidade de Castelo Sant’Angelo, atual Sant’Angelo in Pontano, região das Marcas (Marche) no leste da Itália, em 1245. Seu nome foi em honra de São Nicolau de Mira, que numa visão atendeu ao pedido dos pais de lhes concederem um filho. Ele mesmo contou que, na infância, via o Menino Jesus na Hóstia Consagrada: “(…) assistindo à Missa na igreja que frequentava, quando o celebrante elevava o Corpo do Senhor de acordo com o ritual, com estes meus olhos vi com clareza um Menino de belíssima aparência, traje maravilhoso, rosto luminoso e olhar cheio de júbilo, que me dizia: ‘Os inocentes e os justos estão unidos a Mim’”.
Também muito pequeno, fugia das coisas mundanas e rezava com admirável recolhimento. Aos sete anos, as suas preocupações eram as orações, o jejum três vezes por semana, receber os pobres na casa paterna e se retirar numa gruta próxima para rezar. Já mais crescido servia de acólito na Missa. Frequentou a escola paroquial dos cônegos regulares de Santo Agostinho, onde se sobressaía pela seriedade e responsabilidade, progredindo rapidamente nos estudos e recebendo as ordens menores, de modo que sendo ainda adolescente foi feito cônego na Igreja Collegiata do Santíssimo Salvador.
Ao ouvir a pregação de um frade agostiniano, com cerca de 14 anos, decidiu ingressar na Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho. Terminou o postulantado em Sant’Angelo e foi enviado para o convento da cidade vizinha de San Ginesio, para começar o noviciado e estudar Teologia. Ali foi designado esmoler, destacando-se na caridade para com os pedintes, e realizando seu primeiro milagre: a cura de um menino enfermo, em quem pôs as mãos sobre a cabeça dizendo “O bom Deus te curará”, o que aconteceu imediatamente. Humilde e alegremente desempenhava as funções mais árduas, guardava a pureza, e submetia-se a duras penitências – jejuns, uso do cilício, dormir no chão, usar uma pedra como travesseiro; nunca comia carne, mas só pão e alguns legumes malcozidos e insossos. Fez sua profissão perpétua antes de completar os dezoito anos.
Frequentemente, os provinciais o mudavam de casa, para que o seu exemplo de observância da regra e o seu odor de santidade edificassem os irmãos de hábito. De San Ginesio foi enviado sucessivamente a Recanati, Macerata, de novo San Ginesio, e depois Cingoli, onde foi ordenado sacerdote. Passou ao eremitério de Pésaro e daí para Valmanente, sempre levando vida ascética. O caráter divino do sacerdócio aumentou sua dedicação, e doente ou não celebrava a Missa todos os dias, com admirável piedade, nunca sem ter se confessado antes, e seguidas vezes entre lágrimas. Em Valmanente, a alma de um frei, que estava no Purgatório, apareceu-lhe pedindo que rezasse uma Missa por ele e outras almas; Nicolau então celebrava as Missas como hebdomadário, isto é, durante os dias de semana, quando não eram colocadas intenções pelos falecidos, mas pediu licença ao prior para fazê-lo, e depois de sete dias todas aquelas almas lhe vieram agradecer a entrada no Paraíso. (Esta é a origem do septenário de Missas pelos fiéis defuntos de São Nicolau de Tolentino).
Um primo de Nicolau, superior de um convento próximo a quem fôra visitar, e onde a regra era menos austera, convidou-o a lá ficar, alegando que estava muito magro e acabaria por perder a saúde, tornando-se inútil para a Igreja. Em oração, Nicolau procurou discernimento, e vários anjos lhe apareceram, cantando: “É em Tolentino que deveis permanecer, mantém tua vocação, nela encontrareis vossa salvação”. Isto esclareceu a sutil tentação que o demônio lhe oferecia. Assim, foi para a cidade de Tolentino, nas Marcas, em 1275, perseverando na vida de grande austeridade por 30 anos, e dedicando-se à Missa, às Confissões, à pregação e às visitas aos pobres e doentes.
Nicolau comia muito pouco e por isso ficou doente. Por obediência, ingeriu um pequeníssimo pedaço de carne, dizendo: “Já obedeci, não me aborreçam mais com gulodices”. E Deus o curou. Portanto continuou a jejuar às segundas, quartas e sextas, e, aos sábados, em honra a Maria Santíssima. Acontecendo de novamente cair doente, Nossa Senhora lhe apareceu e o orientou a comer um pouco de pão molhado em água, abençoado com o sinal da Cruz, depois do que ficou bom. Daí surgiu a bênção dos pãezinhos de São Nicolau, realizada no dia de sua festa, responsável pela cura de inúmeros doentes, o mais famoso deles Filipe II da Espanha, que aos oito anos foi assim curado de febres muito altas.
Outras penitências suas eram o uso de tecidos ásperos e cadeias metálicas, que irritavam a pele. Além das horas canônicas de oração obrigatória, rezava todo o período entre cada uma delas, se não tivesse que atender confissões ou cumprir alguma obrigação. Se não estivesse na igreja ou perto de um altar, orava na cela, onde colocara duas lajes, para apoio dos joelhos e dos braços, e que sendo muito frias o mantinham acordado no período da noite.
O diabo de tudo fazia para perturbar as suas orações. Alternava gritos com sons de animais, como o uivo de lobos ou rugidos de leões, e outras vezes fingia abrir o telhado, quebrar telhas ou quadros, ou derrubar a casa. Por três vezes, como um pássaro gigantesco, invadiu sua cela para derrubar e quebrar a lâmpada do seu oratório. Mas a tudo isso Nicolau, sem temor ou perturbação, mantinha-se sereno e em oração. Em outras várias oportunidades, o diabo o agredia fisicamente, deixando-o ferido e em estado grave, em seguida largando-o no claustro, onde os frades o encontravam. Depois de uma dessas ocasiões, Nicolau ficou coxo e passou a usar uma bengala para poder andar.
O diabo também o tentou com o escrúpulo sobre a validade das suas penitências, que não agradariam a Deus e se tornavam um fardo para a comunidade… mas Jesus lhe apareceu em sonho, garantindo que suas penitências Lhe eram gratas e que o temor escrupuloso que sentia eram nada “mais que um artifício de satanás e que seu nome já estava escrito no livro da vida”. Assim, mesmo alquebrado, Nicolau continuava com os sacrifícios, e a visitar os pobres e os doentes. Era também um ótimo pregador, e, no confessionário, por vezes se oferecia para pagar, ele mesmo, as penas dos arrependidos.
Muitos foram os milagres que realizou (301 reconhecidos até a sua canonização). Certa vez o prior o viu dando aos pobres o pão destinados à comunidade, e lhe perguntou o que levava na toalha sob o manto; Nicolau respondeu que eram flores, e de fato em belíssimas rosas os pães haviam se transformado, em pleno mês de dezembro – inverno, sem flores, no Hemisfério Norte… em outra ocasião recebeu a pedido de doação, de uma dona de casa simples, uma quantidade de farinha, parte significativa da que a senhora tinha para a própria família. Ele a abençoou, dizendo: “Que Deus, por amor de quem, mesmo sendo pobre, deste esta esmola com alegria, multiplique a farinha que conservas”. A partir de então, a quantidade de farinha na casa dela nunca diminuiu.
Um ano antes da sua morte, um astro luminoso começou a acompanhá-lo permanentemente, visto por todos; nos seus últimos seis meses de vida, anjos cantavam para ele todas as noites. Faleceu em 10 de setembro de 1305, na presença de uma relíquia da Santa Cruz. Foi sepultado na capela onde habitualmente confessava e celebrava a Missa, que por conta dos milagres ali ocorridos tornou-se local de peregrinação. Seu corpo foi encontrado incorrupto 40 anos depois da sua morte, e nesta ocasião jorrou sangue dos braços, o mesmo acontecendo de tempos em tempos, posteriormente. São Nicolau de Tolentino foi um dos santos mais populares na cristandade, até perto dos anos 1800.
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