segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Qual o meu sentido?


A pergunta sobre o sentido da vida é como um fio invisível que tece os anseios mais profundos do coração humano. Em meio ao ruído do mundo moderno – suas promessas de sucesso, poder e prazeres passageiros – essa questão permanece, constante, insistente: Por que estamos aqui? Para onde vamos? Qual é o propósito da existência?

Estas inquietações não são fruto de fraqueza ou dúvida; ao contrário, são sinais de uma grandeza espiritual que nos distingue. Como diz Santo Agostinho, com uma voz que atravessa os séculos: “Criaste-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti.” (Confissões, I, 1).

A Igreja, que guarda e transmite a sabedoria revelada por Deus, nos ensina que o homem foi criado por amor e para o amor. Em Deus, encontramos nossa origem e nosso fim. Ele é o Alfa e o Ômega, o princípio e o destino para o qual tudo converge. Como diz o Catecismo da Igreja Católica, “Deus criou o homem para o fazer participar da Sua vida bem-aventurada” (CIC, 1). Somos, portanto, peregrinos em uma estrada que não termina na morte, mas que se abre à eternidade, onde finalmente contemplaremos Aquele que é a fonte de todo bem e verdade.

Essa “vida bem-aventurada” é a visão de Deus face a face, a união definitiva com Aquele que é a fonte de todo amor, toda beleza e toda verdade. É por isso que nenhum prazer passageiro, nenhuma conquista material pode satisfazer plenamente o coração humano. São Tomás de Aquino explica com precisão:

“No homem, existe um desejo natural de felicidade, e esse desejo não pode ser satisfeito por nada menos do que Deus.” (Summa Theologica, I-II, q. 2, a. 8).

Se no Antigo Testamento já encontramos sinais claros de que o coração humano só encontra repouso em Deus – como proclamava o Salmista: “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Salmo 42,3) – é em Cristo que a resposta se torna plenamente visível. O mistério da Encarnação nos revela que o próprio Deus veio ao encontro do homem para mostrar-lhe a plenitude de seu destino. Jesus Cristo, com a autoridade serena de quem é a Verdade em pessoa, declara: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14,6).

Cristo não é apenas um mestre que oferece ensinamentos sublimes. Ele é o próprio sentido da vida. Tudo o que o homem busca – felicidade, amor, paz, verdade – se encontra n’Ele. Ao contemplar Sua vida e Suas palavras, ao observar o Seu dom total na cruz, compreendemos que a vida só encontra sentido no amor, e este amor não é qualquer amor: é o amor que dá a vida, que se entrega sem reservas, que busca o outro sem egoísmo. Como diz o Evangelho, “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á” (Mateus 16,25). Perder a vida por Cristo significa, paradoxalmente, encontrá-la em plenitude.

Resposta no Cotidiano

Buscar o sentido da vida não é um exercício puramente intelectual, mas uma jornada espiritual que se realiza em gestos concretos. O Senhor nos oferece meios seguros para essa descoberta: a oração, a vida sacramental e o serviço ao próximo. Pela oração, entramos em diálogo com Deus e permitimos que Sua voz nos revele o que a agitação do mundo esconde. Na Eucaristia, recebemos o próprio Cristo, que Se dá em alimento e nos sustenta no caminho. Na Confissão, reencontramos o Pai que nos abraça e nos purifica, devolvendo-nos à verdade de quem somos: filhos amados.

O serviço ao próximo, por sua vez, nos tira de nós mesmos e nos faz viver como Cristo viveu, pois, o coração só se realiza verdadeiramente quando ama, uma vez que fomos feitos para amar. Santa Teresinha do Menino Jesus, com sua simplicidade desarmaste, nos revela esse segredo: “A minha vocação é o amor.” No amor está a plenitude da vida, pois ali nos encontramos com o próprio Deus, que é Amor (1 João 4,8).

A felicidade que o mundo não pode dar!

Assim, podemos entender que o erro trágico de nossos tempos é buscar respostas em lugares que só oferecem vazio: nas riquezas que se corroem, nas honras que se desvanecem, nos prazeres que duram um instante. O mundo promete felicidade, mas oferece apenas migalhas de alegria. Por isso, Cristo nos adverte com firmeza: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” (Mateus 16,26). Somente em Deus encontramos o que nosso coração realmente busca.

São Francisco de Assis, ao renunciar a tudo o que possuía, descobriu essa verdade e pôde dizer: “Deus meu e tudo!” O sentido da vida não está no ter, mas no ser – e ser plenamente significa ser de Deus, viver para Ele e com Ele. Não há outro caminho para a verdadeira paz, para aquela alegria que não se abala diante das tribulações.

A jornada desta vida é um caminho em direção ao repouso definitivo no coração de Deus. Como peregrinos, avançamos por entre alegrias e sofrimentos, mas sempre com o olhar fixo na eternidade. São Paulo descreve essa esperança com palavras que enchem o coração de consolo: “Nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais penetrou no coração do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam” (1 Coríntios 2,9).

Vivamos, portanto, com a certeza de que fomos criados para algo maior. O sentido da vida não é um enigma insolúvel, mas um dom oferecido por Aquele que nos chama pelo nome. Como nos lembra Santo Agostinho, “Nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti.” Que possamos, ao final de nossos dias, chegar à presença de Deus e ouvir d’Ele estas palavras: “Muito bem, servo bom e fiel… entra na alegria do teu Senhor” (Mateus 25,21)

Neste repouso eterno, nossa busca finalmente encontrará sua resposta, e o amor será tudo em todos.
A vida, em sua essência mais pura, é um convite a amar e ser amado por Deus. Nisso está o seu sentido, e nada fora disso tem sentido!

Ana Clara Borges
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator


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