
É urgente falarmos sobre o Purgatório! Poucos temas são tão importantes e, ao mesmo tempo, tão esquecidos como este… Talvez seja porque as pessoas não queiram pensar na morte. Ou talvez elas achem que o Purgatório é apenas mais uma “tese teológica” como tantas outras, sem importância para quem não é um estudioso.
Há alguns séculos circula uma “Fake News” (que, infelizmente, se tornou popular) a respeito do Purgatório. Dizem que essa realidade não existia na Igreja antiga e que foi “inventada” durante a Idade Média. Alegam, ainda, que não encontramos nada a respeito disso nas Sagradas Escrituras.
É evidente que isso não tem fundamento algum. Pode até ser que a palavra “Purgatório” tenha sido adotada tardiamente, mas é fato indiscutível que o conceito existe desde os apóstolos. Ou melhor: existe desde Cristo, o qual mencionou nos Evangelhos que há um lugar em que as almas são lançadas “até que paguem o último centavo” (cf. Mt 5, 26) e que “existem pecados que não serão perdoados, nem nesta vida nem na outra” (cf. Mt 12, 32), deixando claro que há outros pecados que poderão ser compensados após a morte.
MAS, AFINAL: O QUE É O PURGATÓRIO?
A explicação não é tão complexa como muitos pensam. O fato é que nós fomos criados para viver uma alegria eterna na presença de Deus. Este estado de plena felicidade é aquilo que nós chamamos de “Céu”. É o lugar das maiores maravilhas, dos verdadeiros prazeres, onde “não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor” (Ap 21, 4).
Mas Deus não é um tirano que obriga todos a fazerem sua vontade. O Senhor deu a opção para que as pessoas não queiram o “Céu” – por mais louco que isso possa parecer. É por isso que ele deixou uma árvore com frutos proibidos no Jardim do Éden. É por isso que Ele permite que nós caiamos em pecados. No fim, temos a possibilidade de escolher uma eternidade sem Deus (que é aquilo a que damos o nome de “Inferno”).
Portanto, aqui estão duas verdades inquestionáveis: nós só temos dois caminhos possíveis (Céu ou Inferno) e passaremos toda a nossa eternidade em algum destes lugares. Uma vez que a pessoa alcança este destino final, isso se torna imutável. Nunca ninguém saiu do Inferno; nunca alguém perdeu o Céu após tê-lo conquistado.
Mas aqui está um problema: a Doutrina Católica nos ensina que só pode entrar no Céu quem é plenamente santo, ou seja, quem já se purificou de todo pecado e está pronto para contemplar a beleza eterna de Deus. Porém, pare para pensar: quantas pessoas que você conhece morreram em plena santidade?
Aqui muitos se afligem. Afinal, quem de nós poderia entrar no Céu diretamente? Nem todos somos como uma Santa Teresinha ou um São Padre Pio… Mas a misericórdia de Deus é surpreendente: Deus criou um “lugar” temporário em que as almas justas (ou seja, aquelas que morreram em amizade com Deus) podem se purificar aos poucos para poder entrar na eterna felicidade.
Este “lugar” temporário é o Purgatório. É como se fosse uma antessala do Céu, em que você já consegue até ouvir o barulho da festa, mas ainda está se preparando para entrar. Quanto mais impurezas a pessoa leva ao caixão, mais ela precisará se purificar no Purgatório. Mas ela, pelo menos, pode se consolar com uma coisa: o Céu já é garantido. Quem vai ao Purgatório não corre mais o risco de ser condenado ao Inferno.
COMO UMA ALMA SAI DO PURGATÓRIO?
É possível perceber, portanto, que o Purgatório é frequentado pela enorme maioria das almas que morrem em estado de amizade com Deus (ou seja, não estou considerando aquelas que optaram pelo Inferno durante sua vida mortal). É justamente por isso que a Igreja possui por tradição rezar insistentemente pelas almas que estão nesta grande “sala de espera”.
É preciso enaltecer uma informação importantíssima: as almas que estão no Purgatório já não podem fazer algo por si mesmas. É diferente de mim e de você, que ainda estamos vivos e podemos fazer obras de caridade, reparar os pecados e participar de muitas Missas. Quem está no Purgatório anseia enormemente pela ajuda daqueles que estão vivos!
Apesar de ser uma imagem imperfeita, pense no Purgatório como se fosse uma grande escadaria: o Céu está lá em cima, e a alma precisa subir para alcançá-lo. Quanto mais orações os vivos fazem por ela, mais degraus ela pode subir. Quanto mais Missas, terços e penitências são oferecidos por ela, mais próximo ela fica das portas do Paraíso!
Cristo nos ensinou que devemos ser generosos principalmente com quem não poderá pagar. “Quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir, mas tu receberás na ressurreição dos justos” (Lc 14, 13). O mesmo Jesus afirmou que, quando fazemos algo por algum pequenino, é a Ele que fazemos (cf. Mt 25, 40).
Quem seria mais pequenino e pobre do que uma alma do Purgatório, que já não pode fazer nada por si mesma? Santo Tomás de Aquino declara que a caridade devida aos defuntos é uma extensão da mesma caridade que devemos ter com o próximo desta vida. E, por serem as necessidades delas maiores que as do próximo desta vida, será maior também o nosso dever em socorrê-las.
E O QUE NÓS TEMOS FEITO?
Santo Afonso de Ligório se surpreende ao pensar que há cristãos que não fazem nada para diminuir as penas das almas do Purgatório: “Não sei como alguém possa estar isento de culpa se deixa de lhes dar algum auxílio, ao menos com suas orações”.
Além disso, veja o que diz Santo Agostinho: “Deus fará com que sejam mais socorridos do que outros aqueles que nesta vida mais intervieram pelo socorro das almas dos fiéis defuntos, pois da Providência receberão o maior dos socorros quando for a sua vez de expiarem no Purgatório”.
Criemos o hábito, portanto, de suplicar a Deus (se possível, todos os dias) pelas almas que mais precisam das nossas orações, especialmente aquelas que conhecíamos em vida e também aquelas mais esquecidas e que precisam urgentemente de socorro. Como nos lembra o amado Jesus: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt, 5, 7).
Rafael Aguilar Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrato
Fonte:www.pantokrator.org.br
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