sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

O Servir me conduz a caridade


Quem não deseja ser feliz? É possível inferir que todo ser humano vive em busca da felicidade e do que ela engloba, pois nisso se encontra uma sensação de descanso. Entretanto, não é possível apoiar a realização da existência e, consequentemente, a felicidade, apenas em bens criados, em uma pessoa, em um acontecimento, no trabalho, bens materiais, conquistas, etc. Claro que uma vida digna nesta terra traz certo conforto, mas a felicidade não se restringe a isso e não é tão simples como gostaríamos.

A filosofia diz que o ser humano é um ser ontológico, ou seja, é capaz de buscar a fundo a sua existência a ponto de realizá-la. Para nós cristãos, nosso ser ontológico está firmado na pessoa de Cristo, Aquele que se encarnou e foi o homem perfeito. É Nele que encontramos o sentido e a plena realização de nossas vidas. Portanto, imitá-Lo é a via garantida para verdadeira felicidade e santidade.

Em sua vida terrena, Cristo deu inúmeros exemplos de como o ser humano deve agir, e a essência de Sua vida terrena foi o amor pelos homens. A expressão do Amor que somos chamados a viver, portanto, é a maneira como Cristo viveu e não os moldes mostrados em programas de televisão ou músicas da atualidade.

“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1)

Somos chamados a amar todos aqueles que Deus nos envia, doando o máximo que pudermos, imitando Jesus e fazendo como Ele nos ensina todos os dias pela Sua Palavra. Somente assim chegaremos à perfeita realização daquilo que fomos criados para ser. Isso não é algo inalcançável; basta olhar para a vida dos santos, que nada mais buscaram além de imitar o amor de Jesus. Amor esse que foi até as últimas consequências ao dar Sua vida na Cruz, algo que nos faz questionar o quanto temos retido nosso amor pelos irmãos.

O amor se expressa de inúmeras maneiras e, quando amamos, estamos servindo o outro. O dicionário nos diz que ‘servir’ significa trabalhar em favor de alguém. Servir não significa apenas trabalhos físicos ou materiais, mas também pode se concretizar em dar um conselho, um apoio, uma companhia, evangelizar, enfim, dar ao outro aquilo que você tem e que ele precisa.

O serviço do amor verdadeiro vai além de ser útil, o que seria um ato moral de altruísmo; ele diz respeito à realização profunda da existência do ser humano, buscando seu ‘eu ideal’ em Cristo. Não significa apenas ‘fazer o bem’, pois amar vai muito além e exige de nós entrega e compromisso, já que, muitas vezes, não escolhemos a quem somos chamados a servir. Nesse aspecto, devemos lembrar da seguinte ordem de Jesus:

“Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5, 44)

Nosso coração, endurecido pelo pecado e marcado pelas concupiscências, sempre será inclinado a permanecer na famosa ‘zona de conforto’, onde tudo é mais fácil e não exige tanto esforço. Quando lemos a ordem de Jesus acima, entretanto, torna-se urgente para cada um de nós o esforço de dilatar nossos corações e vencer todo o egoísmo que nos impede de ir ao encontro do outro, mesmo que seja alguém que não queremos amar.

Quando fazemos isso, podemos pensar, num primeiro momento, que sairemos no prejuízo, pois amar significa não receber nada em troca. São Paulo, porém, nos diz em Atos 20, 35 que ‘há mais felicidade em dar do que em receber’. Na lógica de Deus, quanto mais amamos e servimos, mais seremos ricos e felizes. Quanto mais servirmos ao próximo, mais Deus proverá as suas necessidades.

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as coisas serão dadas em acréscimo.” (Mateus 6, 33)

Um sinônimo da palavra ‘amor’ é a palavra ‘caridade’. No sacramento do Batismo, recebemos três dons chamados teologais: o dom da fé, o dom da esperança e o dom da caridade. Isso significa que Deus nos prepara para amar verdadeiramente desde o início de nossa caminhada cristã, basta exercermos esse dom que nos foi dado. É porque Ele nos deseja santos e felizes que nos deu esses dons, para que alcançássemos a estatura de Cristo desde já, aqui nesta terra.

Que possamos buscar, cada vez mais, o sentido de nossa existência servindo e amando incondicionalmente a Deus em nossos irmãos, sem perder as oportunidades que Deus nos concede em nosso cotidiano. Mesmo que isso signifique o sacrifício de sair de si mesmo para chegar a pessoas não tão estimadas.

“Dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também”. (Lucas 6, 38)

Somente assim alcançaremos a felicidade plena!


Luciana Ronqui
Consagrada da Comunidade Pantokrator


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