quarta-feira, 26 de março de 2025

A honestidade dos santos


O que faz uma pessoa santa? A entrega total do coração a Deus, a humildade, o vigor etc. são algumas das características dos santos. No entanto, uma qualidade me chama a atenção e me parece essencial para a santidade: a honestidade.
Olhar para si mesmo com honestidade

Lembro-me muito bem de uma época confusa da minha vida, em que me questionava sobre quem eu era e para onde iria, quando me deparei com Confissões, de Santo Agostinho. Muitas coisas me chamaram a atenção nesse livro. Santo Agostinho, de fato, amava o Senhor, e cada palavra da obra parece expressar isso. Mas uma coisa, em específico, destacou-se ainda mais para mim: a honestidade desse santo.

De fato, há duas formas de honestidade perpetuadas nesse livro. Primeiro, sua franqueza ao contar todos os seus erros e se abrir completamente sobre seu passado, mesmo que não fosse algo positivo. Em segundo lugar, a honestidade do santo durante seu processo de conversão, sem o uso de máscaras para esconder seus questionamentos e desejos.

Sobre a primeira forma de honestidade mencionada, é belo ver como Santo Agostinho se debruça sobre o próprio passado sem reservas e entrega tudo ao Senhor. Essa atitude é nobre e virtuosa porque representa um grande passo de confiança em Deus, na consciência de que o Senhor já perdoou seus pecados e redimiu sua humanidade pecadora.

É fundamental que olhemos para nossa história, com todas as suas dificuldades, e submetamos tudo ao Senhor, reconhecendo quem somos e o que nos tornamos. É ao analisarmos a origem de nossos pecados que percebemos as formas mais eficazes de combatê-los. Para isso, é necessário ser honesto consigo mesmo, não mentir nem contar meias verdades. A Verdade deve vir à tona para que sejamos libertos. Assim, convido você a seguir o exemplo de Santo Agostinho, revisitando sua vida e, com total honestidade, descobrindo a Verdade.

Quanto à segunda forma de honestidade, vejo-a como essencial para a santidade. Veja, Cristo veio para nos amar, mas como podemos ser amados se escondemos partes de nós d’Ele? Imagine amar um esposo ou uma esposa que não compartilha a verdade do próprio coração com você, que omite situações, mente, esconde fatos etc. Você continuaria amando essa pessoa — afinal, fez um juramento diante do padre prometendo amá-la —, mas haveria algo incompleto. Cristo nos ama na medida em que nos permitimos ser amados. Portanto, se escondemos partes de quem somos, Ele não pode agir plenamente em nós.

Sigamos o exemplo de Santo Agostinho, que, durante sua conversão, não ocultou seus desejos e questionamentos. Pense da seguinte maneira: Deus nos quer plenamente realizados e sem brechas. Então, por que esconderíamos d’Ele nossos desejos e questionamentos incompletos? Talvez pensemos que não há uma forma de Deus preencher essas lacunas ou que são desejos ruins, mas esse pensamento é ingênuo. Se Deus não fosse capaz de criar soluções para problemas aparentemente sem solução, Ele não seria Deus. Além disso, como já dito, a Verdade liberta. Reconhecer a Verdade sobre si mesmo liberta, ainda que essa verdade revele que somos pecadores e fracos. Talvez você esteja se sentindo incompleto ou sem respostas neste exato momento, e talvez isso aconteça porque ainda não se abriu completamente para a Verdade de quem você realmente é.

O pecado que faz os santos

É possível perceber, então, que é necessário aceitar-se como realmente somos. Nenhum ser humano é perfeito, e, por isso, devemos nos enxergar inteiramente, com todas as nossas fraquezas. Teremos pecados para sempre, mas o que diferencia o santo do miserável é que o santo entende que é justamente por meio de suas fragilidades que Deus pode amá-lo.

O que muitos santos perceberam é que somente quando nos colocamos inteiramente na dependência do Pai é que Ele pode cuidar de nós da maneira como deseja — amando-nos. Deus é um Deus de misericórdia e, paradoxalmente, é nos momentos em que mais nos perdoa que Ele mais nos ama.

“Bendito o pecado de Adão, que nos trouxe o Salvador!”, afirma Santo Agostinho. E não apenas o pecado de Adão, mas também os nossos. Bendito seja o meu pecado, que me trouxe o Salvador.

Santa Teresinha também foi uma mestra na aceitação de si mesma. Ela percebeu que Deus não a amava mais por suas grandes virtudes, mas sim por suas fragilidades. Ao reconhecer que não tinha forças para combater suas próprias limitações, ela se lançava completamente nos braços do Pai e, assim, era amada de forma plena.

Sigamos, então, o caminho desses santos, que olharam para si mesmos com honestidade e se permitiram ser amados inteiramente por Deus. Isso é o que nosso coração realmente deseja. Portanto, abra-se para a Verdade e deixe Deus cuidar de você.

José Henrique Hissung Botelho de Andrade
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator


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