
A penitência é um dos caminhos mais profundos e eficazes para a transformação espiritual. Vivemos em um mundo hedonista, onde se busca cada vez mais a satisfação, o prazer e a glória em cada ato, em cada ação, em cada momento.
Atualmente, até mesmo as práticas de jejum têm sido deturpadas. Muitas vezes, não se busca mais a melhoria pessoal ou, de forma mais profunda, uma verdadeira conversão. Em vez disso, o objetivo passa a ser a busca por um corpo ideal, uma sensualidade (implícita ou explícita), ou o simples prazer de se admirar no espelho.
Perder para ganhar
Em sua essência, a penitência é um ato de amor. Quando percebemos que nossos atos, pensamentos ou omissões nos afastaram de Deus, somos movidos a buscar a reconciliação. No entanto, para que essa compreensão não seja apenas mental, mas também profunda e vivida, algumas experiências e reflexões são necessárias.
Hoje, vemos cada vez mais empresas oferecendo palestras e planos de benefícios para manter a saúde mental e o equilíbrio emocional. Como cristãos, não há problema algum em buscar auxílio psicológico, psiquiátrico ou até mesmo exercícios físicos para aliviar o estresse. Em muitos casos, isso é necessário!
Mas, acima de tudo, é essencial reservar um tempo para a oração. Uma oração silenciosa, profunda, de escuta do coração de Jesus. Rezar o Santo Terço, fazer uma oração devocional ou passar um momento em adoração ao Santíssimo Sacramento deve ser a base de uma vida verdadeiramente sadia.
Por que, então, temos tanta dificuldade em compreender que esse deve ser o primeiro passo e que todas as outras práticas são apenas consequência?
O ensinamento da Fé
Jejuar, praticar exercícios físicos e buscar o equilíbrio emocional poderiam, sim, ser atos voltados para agradar ao Coração de Jesus, mantendo a saúde e oferecendo os sacrifícios pela conversão pessoal ou pelas almas do Purgatório. Contudo, quando essas práticas não estão enraizadas na penitência, elas tendem a nos manter no centro da nossa própria vida.
A oração nos faz reconhecer que não somos autossuficientes. Sozinhos, não temos capacidade de mudar ou definir um futuro melhor. É óbvio que Deus age através das pessoas e deseja que também nos esforcemos para nos converter. Mas, muitas vezes, acreditamos ser melhores do que realmente somos. Esse pensamento, quando exposto, pode nos constranger, mas muitas vezes está presente em nossas atitudes.
Passamos a praticar boas ações por motivações equivocadas: frequentamos a academia porque precisamos emagrecer; jejuamos porque precisamos perder peso; silenciamos porque precisamos nos apresentar bem diante dos outros. Chegamos ao ponto de jejuar para “ensinar” aos irmãos o valor do jejum, escolhemos uma penitência quaresmal apenas porque a Igreja pede e queremos demonstrar nossa fidelidade, devolvemos o dízimo porque é um dever, e evitamos falar mal do irmão apenas para reafirmar nossa própria bondade.
Com o tempo, essa pressão interna para parecermos bons e corretos torna-se insustentável. Então, nossa alma, como uma panela de pressão, explode!
A Verdadeira Humildade
Santa Teresinha do Menino Jesus nos ensina: “A santidade não consiste em fazer coisas extraordinárias, mas em suportar com amor nossas fraquezas”.
A penitência não deve ser encarada como um fardo, mas como um dom. Ela nos conduz à humildade, ajudando-nos a compreender nossa real condição. Ser humilde não significa andar encurvado, falar baixinho ou negar nossas qualidades. Ser humilde é reconhecer o verdadeiro valor que temos e quem realmente somos diante de Deus.
EU NÃO SOU. DEUS É!
Ele é o Eu Sou (Ex 3,14; Ap 1,8). Deus é aquele que nos impulsiona a buscar a santidade, a praticar a penitência e a sustentar nossas boas ações. Deus é Bondade, Fidelidade, Misericórdia e Humildade!
A penitência nos ensina a amar nossa própria miséria, nossa finitude e nossa impotência. Ela nos leva a aceitar nossas fraquezas, pois é nelas que Deus manifesta sua força.
Ao nos conduzir à humildade, a penitência nos liberta do peso do orgulho e nos abre à experiência da verdadeira alegria: a alegria de sermos amados por Deus, apesar de nossas imperfeições, e de podermos retribuir esse amor em nossa vida diária. Assim, a penitência nos torna mais humanos e mais semelhantes a Cristo, que “sendo rico, se fez pobre por amor a nós” (2 Cor 8,9).
Que possamos, portanto, abraçar a penitência como um caminho de conversão, humildade e profundo amor a Deus. Confiemos na força da graça divina para nos transformar e nos conduzir à plenitude da vida cristã, à plenitude da santidade.
Márcia Pataro
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
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