Uma das maiores graças que encontramos na Santa Igreja, são os ensinamentos. Porém, não são apenas ensinamentos em contextos literários, mas, ensinamentos que transcendem a realidade humana e nos fazem viver o kairós de Deus. E é sobre essa ótica que eu quero te convidar a refletir sobre o significado da quaresma.
Instituída como prática obrigatória no século IV, mas desde antes, os irmãos da igreja primitiva já a praticavam em preparação para a Páscoa.
A quaresma nos conduz fortemente por uma jornada de oração, jejum e penitência. O calendário litúrgico Católico Apostólico Romano não é apenas um conjunto de datas designadas para nos fazer lembrar de festas e passagens bíblicas. Para compreendermos a verdadeira beleza que existe neste tempo quaresmal e que nos leva a viver um retiro de espiritualidade e fé, é preciso que peçamos a Deus que os nossos olhos carnais sejam fechados e deem lugar aos nossos olhos espirituais.
O Kairós de Deus
Embora o nosso corpo físico viva um tempo cronológico (cronos), estabelecido e contado por dias, horas e minutos, nós podemos de forma mística viver o tempo oportuno de Deus (Kairós). Este tempo permite nos desvincularmos de forma sobrenatural do tempo presente, ou seja, cada período do tempo litúrgico deixa de ser uma memória, mas uma real experiência na qual podemos dizer que estamos vivendo os 40 dias que antecedem a páscoa juntamente com o nosso senhor há quase 2000 anos, ou que estamos juntamente com a Sagrada Família no dia 24 de dezembro do ano zero, por exemplo.
Cientes de que não estamos mais no tempo presente e sobrenaturalmente fomos transportados para estarmos com Cristo nos seus últimos 40 dias de vida, como devemos proceder? Como agir sabendo que o Filho de Deus será entregue no madeiro pelo meu e o seu pecado? Para aqueles que realmente desejam a salvação, não resta outra coisa a não ser se render em oração, jejum e penitência, refletindo sobre as nossas faltas, sobre os nossos pecados, buscando conversão. Por isso, neste período somos impelidos pela Igreja para praticarmos o recolhimento, a observância, a oração, a renúncia e de forma concreta o arrependimento dos nossos pecados. É um período de grande batalha espiritual, pois o inimigo de Deus sabe que não estamos apenas fazendo memória e sim vivendo com Cristo a preparação do sacrifício da nossa redenção.
Espírito contrito
Um espírito contrito é um espírito que está arrependido das suas ações, e somente o verdadeiro arrependimento pode nos levar à salvação. Porém, até isso é dom de Deus, o arrependimento! Por nós mesmos não somos capazes de reconhecermos as nossas faltas e nos envergonharmos delas. Por isso, o amor de Deus personalizado em Cristo, suscita em cada um de nós o arrependimento. Mas, o ato de buscar a conversão e renunciar o pecado é uma ação que cabe exclusivamente ao homem, se não, este, feriria o livre arbítrio.
Veja! Deus deseja profundamente a nossa conversão e arrependimento e, atrai o nosso coração para isso. Mas o ato de buscarmos o Reino de Deus, é um ato que precisamos fazer por nós mesmos. É preciso declarar ao mundo que somos filhos de Deus, que renunciamos ao pecado, que abrimos mão de todos os manjares que o inimigo quer nos oferecer. Sendo assim, te convido, meu irmão a viver neste tempo quaresmal uma profunda experiência de arrependimento e conversão. Renuncie às práticas pecaminosas que te fazem escravo, renuncie à luxúria, renuncie à soberba, renuncie tudo aquilo que te afasta de Deus.
O reino de Deus começa aqui e agora, seja você o reflexo deste céu, mostre ao mundo secularizado a graça de vivermos uma vida santa e contrita, uma vida aos pés da cruz. Peça que o nosso Senhor Jesus te mostre as mudanças necessárias, quais áreas da sua vida precisam ser convertidas. Peça que ele te faça viver essa quaresmas como nunca viveu antes, como se fosse a última de sua vida.
Que a Santíssima Virgem interceda por cada um de nós e que vivamos cada dia desta quaresma de forma singular.
Denis Dias
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator
Fonte: www.pantokrator.org.br
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