Gemma Maria Umberta Pia Galgani, primeira de cinco filhos, nasceu em 1878 numa família rica e profundamente religiosa, em Capannori, província de Lucca, região da Toscana na Itália. Foi batizada no dia seguinte ao nascimento, e um mês depois a família se mudou para Lucca. Demonstrou inteligência precoce, pois com cinco anos já sabia ler o breviário para o Ofício de Maria e o dos mortos.
Em 1886, já ouvia locuções interiores místicas, e sua mãe faleceu em setembro. O pai providenciou a retomada dos seus estudos no início de 1887, quando também fez a primeira Comunhão, preparada pelas Irmãs Oblatas do Espírito Santo. Era tão ligada a este Sacramento que lhe foi permitido recebê-lo três vezes por semana, algo incomum naquele tempo. Levava a sério a caridade, dividindo sua merenda com os pobres.
Em 1899 começou a frequentar o Instituto Oblato como estudante, onde teve por professora a própria fundadora do Instituto e futura beata Irmã Elena Guerra. Aconteceu da família perder seus bens e mudar para uma casa pobre na Via del Biscione (depois Via Santa Gemma Galgani); Elena a dispensou das mensalidades. Gemma passou a sofrer de osteite nas vértebras lombares e abscesso frio nas virilhas, além de otite média aguda e mastoidite, de modo que não podia andar e sentia insuportáveis dores de cabeça. Esteve meses doente, na cama, e chegou a receber os últimos Sacramentos. Neste período teve muitas experiências místicas, com as aparições de São Gabriel (Posseti) de Nossa Senhora das Dores. Ficou milagrosamente curada após uma novena a Santa Maria Margarida Alacoque (então apenas beatificada). Depois disso, conheceu a idosa Cecilia Giannini, em cuja rica residência de Lucca foi em breve acolhida, após a morte do pai e a recusa da Ordem das Passionistas em recebê-la como religiosa.
Ainda assim, conseguiu fazer os votos de pobreza, obediência e castidade. Quando rezava, constantemente era vista rodeada de uma luz divina.
Neste mesmo ano de 1899, no dia 8 de junho, Oitava de Corpus Christi e véspera da Festa do Sagrado Coração de Jesus, a jovem recebeu os estigmas de Cristo, que reapareciam, periodicamente, da noite de quinta-feira até as 15 horas de sexta-feira. Gemma entrava em êxtase doloroso nestes períodos, com as mãos, os pés e o lado sangrando profusamente; depois as feridas se fechavam novamente, deixando pequenos sinais. Por certo período, os estigmas se manifestaram quase todos os dias.
Isto e as aparições de Jesus, Maria, o Anjo da Guarda e São Gabriel de Nossa Senhora das Dores estão na sua autobiografia, “O Livro dos Pecados”, escrita em 1901 por obediência ao seu confessor. Em 1902, tuberculosa, teve que mudar para uma casa vizinha à casa dos Giannini. Faleceu com 25 anos, em 11 de abril de 1903, Sábado Santo, enquanto os sinos anunciavam a Ressurreição de Cristo.
A devoção à “Virgem de Lucca” começou imediatamente, originando a Congregação Missionária das Irmãs de Santa Gemma, inserida na ordem Passionista. Declarada modelo para a juventude da Igreja, é também intercessora dos farmacêuticos. A sala onde Gemma nasceu, na Via Pesciatina em Capannori, foi transformada em capela, e a casa inteira num orfanato.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Não são muitos os canonizados a quem Deus agracia com a participação física de Suas chagas. Dentro das suas imensas limitações de saúde, Santa Gemma fez imensos esforços de caridade, sobretudo na oração e no simples aceitar da sua condição. E de fato é isto o que Deus mais valoriza em nós: que aceitemos a condição que Ele nos propõe para a nossa vida, a de Imagem e Semelhança Sua, seja na doença, na saúde, na riqueza, na pobreza… o grande pecado do Homem, aliás desde Adão e Eva, é o desejo iníquo de almejar ser o que não é, e por meios distorcidos procurar alcançar o que não é bom para si nem para o próximo. Isto não implica em que seja condenável o progresso, inclusive material, porém é o quanto e no que desejamos “progredir” que se coloca o problema: se nas aspirações mundanas ou se na santificação de espírito. Deus não mente e não fala em vão: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua glória, e tudo o mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33). Até que ponto vivemos sinceramente este preceito de Jesus? Por um lado, é sim louvável e correto procurar melhorar as condições de vida, e Cristo jamais ensinou que a miséria material era uma “bênção”, muito menos a condição essencial para se chegar ao Céu; mas ao contrário, chamou a atenção para a “pobreza de Espírito” (cf. Mt 5,3) que será recompensada, isto é, a virtude essencial da humildade. A busca da santidade, da primazia da vida espiritual, através da qual descobrimos a nossa vocação e deveres no diálogo e com as inspirações do Espírito Santo, é o cerne desta vida, pois é a partir daí que conheceremos o caminho certo a seguir. Se humildes, procuraremos verdadeiramente a Deus, e seguiremos, aceitaremos como Santa Gemma, seja o que for o que Ele nos pedir, individualmente. E só a santificação individual levará a uma vida em conjunto melhor, pois Deus só deseja o nosso Bem.
Oração:
Senhor, que nos destes gratuitamente e por puro Amor a condição de Vossa Imagem e Semelhança, concedei-nos pelas orações e exemplo de Santa Gemma Galgani a preciosidade de Vos seguir no caminho concreto que nos indicais, para que sejamos como ela uma jóia (Gemma) de caridade associada à Coroa de Espinhos da Vossa Paixão, a fim de participarmos igualmente da realeza da Vossa Ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
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