quarta-feira, 12 de abril de 2023

São Júlio I


Júlio I era romano, e governou a Igreja entre 337 e 352, época de liberdade religiosa para os cristãos no Império Romano. Contudo, teve que enfrentar as heresias do donatismo (Igreja só para os santos) e principalmente do arianismo (negava a divindade de Jesus), com suas variações. Neste sentido, acolheu e apoiou Santo Atanásio, bispo, que fora expulso da sé de Alexandria por perseguição dos arianos. Convocou o sínodo de 341, em Roma, que reabilitou Atanásio, inocentando-o das falsas acusações, e condenou o “semi-arianismo” (Cristo seria “similar” ao Pai, ou de uma substância parecida, porém subordinada), uma proposta mitigada desta heresia, mais perigosa justamente por ser disfarçada. Também ficaram condenados aqueles que realizassem a deposição dos bispos legítimos, por conveniência.

Júlio convocou outro sínodo em 343, o de Sárdica (na Dácia Mediterrânea, hoje Sófia, capital da Bulgária), para resolver definitivamente a questão de Atanásio e outros bispos, condenados e reabilitados seguidamente em outros concílios ocidentais e orientais, bem como esclarecer definitivamente a questão das divergentes fórmulas doutrinárias (vários “Credos”). Mas os bispos arianos e semi-arianos do Oriente, tendo a certeza de que seriam vencidos, não compareceram, esvaziando o encontro.

Importante ação de Júlio I foi proclamar a primazia da Sé Episcopal de Roma, em função da autoridade do Sucessor de Pedro na direção da Igreja. Outras iniciativas suas foram a construção de várias igrejas (Santíssima Maria de Trastevere, Basílica Julia – atualmente Igreja dos Doze Apóstolos –, São Valentim, São Calixto e São Félix), a organização eclesiástica, com a proibição da participação de clérigos em tribunais civis, a organização da catequese para os catecúmenos, adultos e idosos. É considerado o fundador do Arquivo da Santa Sé, com a organização e conservação dos documentos. O calendário com os dias das festas dos santos são desta época.

Em 350, Júlio determinou a data de 25 de dezembro como a da comemoração do Natal do Senhor, em substituição à festa pagã em homenagem a Saturno, deus romano da agricultura.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Muitas foram as heresias na Igreja, ao longo dos séculos. Algumas causaram mais danos do que outras, mas é importante lembrar que as ideias mais disfarçadas são via de regra as mais perniciosas, justamente porque são mais enganosas. Um inimigo claramente declarado é fácil de identificar e combater: mas os que se disfarçam como inofensivos ou amigos para depois trair são sem dúvida piores. Neste sentido, Nossa Senhora em Fátima, em 1917, condenou clara e explicitamente as consequências da revolução política na Rússia neste mesmo ano, e no mal que poderia, como de fato ocorre ainda hoje, na expansão desta ideologia, que se apresenta de várias formas, procurando ser “simpática” através da mentira. Por isso, também, a preocupação de São Júlio I com a formação catequética, de modo a que não fossem enganados os católicos. Ainda neste sentido, reiterou ele o direito e dever do papa como chefe da Igreja: a sinodalidade exististe, mas só para os bispos em comunhão com o Papa; de forma alguma, por exemplo, o colegiado dos bispos pode impor uma decisão ao Papa. A recusa e descentralização do poder Papal, aliás, foi o que levou ao Grande Cisma do Oriente, com o surgimento da Igreja Ortodoxa, e também foi a revolta contra a autoridade papal que levou à fundação da Igreja Anglicana, submissa ao Estado. Assim, pode-se afirmar que Júlio I não apenas ergueu igrejas, mas firmemente contribuiu para a edificação da Igreja, por sua fidelidade à Cristo e à sua Doutrina, o que todos nós, batizados, temos igualmente o direito e o dever de realizar.

Oração:

Senhor Deus, única Verdade, concedei-nos que, por intercessão de São Júlio I, sejamos também nós exemplares fiéis no Vosso seguimento, precavidos das falsas doutrinas e capazes de trocar as intenções das festas mundanas pelas das festas sagradas nos nossos corações, de modo a que, no calendário da nossa existência, possamos por fim comemorar, em plenitude, a Comunhão Convosco, nos braços do Cristo Encarnado. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.

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