Filipe nasceu em Betsiada da Galiléia, no reino de Israel, mesma cidade de São Pedro e Santo André, e talvez fosse pescador como eles. Tem origem judaica e nome grego, sendo discípulo de São João Batista, mas foi chamado a ser Apóstolo por Cristo no mesmo dia que Pedro e André; consta que era casado e com três filhos, e seguir Jesus foi de consentimento mútuo e doloroso para ele e para a família.
Aparece sempre em quinto lugar nas listas dos Apóstolos, indicando uma preferência de Jesus, talvez por segui-Lo imediatamente após o convite (“Segue-me”, Jo 1,43). Logo chamou Natanael (São Bartolomeu), e em resposta às suas dúvidas, disse: “Vem e vê!” (Jo 1,46), o que segundo Bento XVI mostra que agiu como verdadeira testemunha, não apenas apresentando uma teoria, mas convidando para uma experiência pessoal.
A ele Se dirige Jesus na multiplicação dos pães e dos peixes (Jo 6,5-7), outra sugestão de Sua preferência. Com Santo André, próximo da Paixão, intercede junto ao Cristo por alguns gregos que O queriam ver (Jo 12,20-22), provavelmente porque falava o idioma, demonstrando assim já caridade para com os pagãos (por isso é muito querido na Grécia e padroeiro do país).
Contudo é chamado à atenção por Nosso Senhor na Última Ceia, após pedir a Ele que mostre o Pai, pois “isto nos basta”: “Filipe, há tanto tempo que convivo convosco e ainda não Me conheces? Quem Me viu, viu o Pai. (…) Não crês que estou no Pai e o Pai está em Mim? (…) Se não, crede ao menos em razão das obras” (Jo 14,7-11).
A Tradição diz que após Pentecostes pregou na Ásia Menor a gregos, citos e partos, obtendo muitas conversões. Chegando a Hierápolis, na Frígia (centro-oeste da atual Turquia), foi martirizado, por lapidação ou crucificado de cabeça para baixo num cruz em forma de “X”; isto por volta dos anos 80, quando ocorre a conversão de São Policarpo, que foi seu discípulo.
Tiago “Menor” é assim diferenciado de outro Apóstolo, Tiago Maior, irmão de São João Evangelista e filho de Zebedeu, não porque fosse inferior em santidade, mas porque o segundo participou de algumas situações específicas que ganharam destaque, como a Transfiguração e o chamado à vigília com Cristo no Horto das Oliveiras.
Tiago Menor era filho de Alfeu e primo de Jesus, fisicamente parecido como o Senhor (um dos motivos pelos quais Judas Iscariotes precisou indicar Jesus aos romanos quando da Sua prisão); de fato, São Paulo se refere a ele como “irmão” de Jesus, um termo que indicava o parentesco próximo na língua hebraica (e erroneamente interpretado de forma literal pelos protestantes, que por isso alegam que Nossa Senhora teria mais de um filho…). São Judas Tadeu e São Simão Cananeu, igualmente Apóstolos, eram seus irmãos consanguíneos. Por sua conduta exemplar, recebeu o apelido de “o Justo”.
Após a Ressurreição, Jesus lhe aparece especificamente (cf. 1 Cor 15,7). É considerado o primeiro bispo de Jerusalém, e São Paulo o cita mesmo antes de Pedro (“Tiago, Pedro e João, considerados colunas da Igreja”, Gl 2,9) a este respeito. Nesta função, seu parecer no Concílio de Jerusalém que presidiu no ano 50 foi acatada, ao afirmar que os convertidos pagãos não precisavam ser circuncidados para pertencer à Igreja (At 15,13).
Na sua carta constante no cânon bíblico está fundamentado o Sacramento da Unção dos Enfermos, e também a essencial afirmação de que “a fé sem obras é morta” (Tg 2,14-19; 5,14-15), ou seja, crer sem praticar as boas obras e obedecer aos ensinamentos de Cristo não é suficiente para a salvação (o que levou Lutero, ao querer justificar a sua heresia de que basta a fé para a salvação – “sola fide” – a não incluir, com outros documentos, esta carta na sua versão da Bíblia, versão esta que, por sua vez – “sola escriptura” – alegou ser fonte única da palavra de Deus, ignorando a Tradição que necessariamente a precede e justifica).
Flavio Josefo, famoso historiador romano, registrou que o Sumo Sacerdote judeu Anano, filho de Anás, aproveitando o intervalo entre a deposição de um Procurador romano e a chegada do seu sucessor, decretou em 62 a pena de morte por lapidação para São Tiago Menor, na época já muito idoso.
As relíquias de São Filipe e de São Tiago Menor foram sepultadas na Basílica dos Santos Doze Apóstolos em Roma, inicialmente dedicada somente a eles; por este motivo sua festa é celebrada no mesmo dia.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Consolador é vermos que nossos altos e baixos na vida espiritual têm paralelo na conduta dos próprios Apóstolos: por exemplo, à grandiosa primeira atitude de São Filipe para com Jesus, de “segui-Lo imediatamente” e abandonar tudo o mais, seguiu-se a posterior repreensão de “há tanto tempo que convivo convosco e ainda não me conheceis”. De fato, somos verdadeiramente capazes de gestos generosos, mas há quanto tempo nós, a grande maioria dos católicos, convive com o Cristo, na oração e Eucaristia, mas não O conhece realmente, pois sequer lembramos das Suas obras, que devemos imitar na caridade com o próximo, ou dos Seus – atualíssimos – milagres, que devem na Fé acabar com nossas dúvidas e hesitações? Ao menos, perseveremos e cresçamos como os Apóstolos, que mesmo nas suas misérias humanas, contando com a infinita e misericordiosa bondade de Deus, escolheram por Ele, apesar de tudo. Só assim seremos “irmãos de Cristo” – da Sua família – semelhantes a Ele… não “de aparência”, mas “na aparência” da vida interior e exterior de resoluta caridade: “parentesco” entende-se como “parecer por laços de íntima união”.
Oração:
Senhor, nosso Mestre e Pai, concedei-nos pelos exemplos e intercessão de São Filipe e São Tiago Menor seguir-Vos como eles o fizeram, testemunhas do Vosso amor a ponto de Vos dar a conhecer pelo convívio direto Convosco, pois queremos morrer para uma vida sem obras concretas de Fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário