Como a mais atenciosa das mães e verdadeira Médica Celeste, Maria Santíssima nos acompanha sempre com seu olhar terno e compassivo, e está pronta a nos socorrer a todo instante. Hoje, dia 8 de outubro, Ela é festejada sob a invocação de Nossa Senhora do Bom Remédio.
Mãe do Bom Remédio – Basílica de Nossa Senhora do Rosário, Caieiras (SP). Foto: Javier Pérez
Redação (07/10/2024 20:07, Gaudium Press) Sob a bela invocação de Mãe do Bom Remédio, festejada pela Igreja no oitavo dia deste mês, a Virgem Santíssima se nos apresenta como dispensadora dos auxílios sobrenaturais e materiais de que nós, insuficientes e miseráveis que somos, necessitamos em meio às penúrias deste vale de lágrimas.
Mas por que “bom remédio”?
A bem dizer, o termo remédio – que deriva do substantivo latino remedium, bem como do verbo remediare – denota uma solução ou lenitivo para qualquer espécie de necessidade. Com efeito, embora muito empregado para designar uma substância utilizada para sanar enfermidade físicas, refere-se também a tudo quanto pode prevenir, aliviar ou eliminar algum mal, mesmo moral ou espiritual.
É razoável, ademais, que os remédios sejam dispensados a um enfermo em proporção às moléstias que o acometem, pois ninguém busca curar-se de uma grave doença com o uso de simples analgésicos, e muito menos utiliza medicamentos fortes e de uso restrito no tratamento de leves incômodos.
Isto posto, perguntamo-nos: que “bom remédio” é este que Nossa Senhora nos oferece? E que tipo de mal ele visa combater?
Jesus Cristo, a Cura do verdadeiro mal
Devido à transgressão de nossos primeiros pais, o gênero humano foi acometido pela pior das enfermidades: o pecado. Como canta um belo hino gregoriano dedicado à Mãe de Deus, o universo estava “inteiro na amargura, inteiro na dor, inteiro no perigo”, pois “o inimigo tudo dominava completamente”; entretanto, pela Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, “foi dado ao mundo moribundo um remédio não humano, mas divino”. Afirma também o Pe. Jourdain que a Virgem Maria trouxe à terra Aquele que pode curar por completo o pior dos males: “Ela engendrou o Autor da salvação. O remédio onipotente, o único capaz de devolver à humanidade a saúde e a vida, saiu de Maria”.
Pois bem, se Maria nos deu esse remédio supremo, por que não esperaríamos d’Ela todos os demais “remédios” de que necessitamos? Como Mãe extremosa, Ela não poderia nos conceder grandes dádivas sobrenaturais sem estar atenta também às nossas pequenas carências de índole material. Estas mesmas carências, aliás, relacionam-se de forma íntima à origem e ao desenrolar da devoção a Nossa Senhora do Bom Remédio.
Solução para um cruel impasse
A Europa do século XII assistiu a interminável e encarniçada peleja entre os católicos e maometanos que, iniciada na Península Ibérica no século VIII prolongou-se por tempo indefinido. Durante séculos de embates, vários cristãos da Espanha, do sul da França e da Sicília foram feitos prisioneiros e desterrados para o norte da África e o Oriente Médio.
Estes filhos da Igreja, fadados à mais terrível escravidão, estavam alheios a qualquer esperança de resgate. Entretanto, a Providência Divina não tardaria em lhes enviar, por meio de uma alma eleita, a solução para o cruel impasse.
Uma Ordem Religiosa em auxílio dos cativos
De ascendência franco-espanhola, João da Mata veio à luz provavelmente no ano de 1160. Embora seus dados biográficos tenham-se perdido na noite dos tempos e sejam, portanto, incertos, acredita-se que ainda jovem ele presenciou os maus-tratos infligidos pelos muçulmanos aos cristãos no porto da cidade francesa de Marselha e, desde então, um forte desejo de trabalhar em favor destes infelizes firmou-se em seu espírito, levando-o a consagrar-se a Deus. Após estudar Teologia em Paris, foi ordenado sacerdote por volta dos trinta e três anos.
Narra uma antiga tradição que, durante a elevação da Hóstia Sagrada em sua primeira Missa, o Santo teve uma impressionante visão: o Salvador apareceu-lhe, trajado com uma túnica alva sobre a qual se desenhava uma bela cruz azul e vermelha, sustentando com as mãos dois prisioneiros cristãos. Ele manifestou o desejo de que fossem resgatados e, para isso, pediu ao sacerdote recém-ordenado que fundasse uma Ordem Religiosa em favor da redenção dos cativos.2 Depois dessa graça, João da Mata resolveu empregar sua vida na execução do pedido divino. Com o auxílio de um monge francês, São Félix de Valois, fundou a Ordem da Santíssima Trindade, aprovada pelo Papa Inocêncio III a 17 de dezembro de 1198.
Contudo, já nos primórdios de seu labor missionário ele teve de enfrentar um grande desafio de ordem material: onde encontrar os meios financeiros para o resgate dos cativos? Os infiéis apenas aceitavam libertar os detidos em troca de vultosas somas e, como reza o provérbio, “dinheiro não nasce em árvore”…
Na aflição, o recurso necessário
Conta-se que no ano de 1202, em Valência, o santo fundador encontrava-se profundamente angustiado pela escassez de recursos e implorava aos Céus uma intervenção. Foi então que a própria Maria Santíssima lhe apareceu e entregou um saco cheio de moedas, com as quais ele pôde resgatar muitos prisioneiros. O fato repetiu-se oito anos mais tarde, na cidade de Túnis.
Ora, o fundador não foi o único a receber a visita da Virgem. Na madrugada de 8 de setembro de 1212, festa da Natividade de Nossa Senhora, enquanto os raios da aurora penetravam lentos e majestosos pelos vitrais da capela do convento e os religiosos cantavam o Ofício Divino, Maria Santíssima apareceu a São Félix de Valois revestida com o hábito trinitário e rodeada de coortes angélicas. Entregou-lhe o escapulário da Ordem, manifestando o desejo de que este fosse imposto sobre os cativos resgatados.
Devido a estas aparições, Nossa Senhora do Bom Remédio é retratada com dois emblemas principais: o saquinho de moedas e o escapulário com uma cruz, cujas cores simbolizam a Santíssima Trindade: o branco, base e princípio de todas as cores, representa o Pai, que é ingênito; o azul, cor da carne humana machucada, faz alusão ao Filho, ferido em sua humanidade durante a Paixão; e o vermelho, figura do fogo divino que tudo consome, refere-se o Espírito Santo.
Em 1688 a Ordem da Santíssima Trindade proclamou Nossa Senhora, Mãe do Bom Remédio, como sua padroeira oficial. Quase três séculos depois, ela receberia caráter oficial na Igreja pela carta apostólica Sacrarium Trinitatis, do Papa João XXIII.
Fora dos muros do convento de Marselha, onde primeiro se venerou a Virgem sob esse título, logo as representações se multiplicaram. Uma das mais difundidas é a que se encontra hoje na Basílica de São Crisógono, em Roma, santuário confiado aos cuidados dos trinitários pelo Papa Pio IX em 1847. O autor do afresco, Giovanni Battista Conti, concluiu a pintura de estilo neobizantino no ano de 1944, em agradecimento à Santíssima Virgem Maria pela preservação de Roma dos flagelos da Segunda Guerra Mundial.
Invoquemo-La com confiança filial!
Crises espirituais, problemas familiares, enfermidades, dificuldades financeiras… Quem está isento dos males desta vida?
Como a mais atenciosa das mães e verdadeira Médica Celeste, Maria Santíssima nos acompanha sempre com seu olhar terno e compassivo, e está pronta a nos socorrer a todo instante. Se nunca se ouviu dizer que alguém tenha recorrido a Ela e fosse desamparado, não seremos nós os primeiros!
Eis a lição que nos dá Nossa Senhora do Bom Remédio. Quando, pois, a Providência Divina nos visitar com sofrimentos, lembremo-nos de que basta invocá-La com confiança filial e obteremos tudo quanto necessitarmos. E, se Ela não puder nos livrar da dor, estará ao nosso lado consolando-nos e dispensando-nos graças abundantes para carregarmos nossa cruz com fidelidade.
Texto extraído, com adaptações, da Revista arautos do Evangelho n. 274, outubro 2024. Por Santiago Ignacio Ramírez.
Fonte: gaudiumpress.org
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