Lázaro morava com suas irmãs Marta e Maria em Betânia, na Judeia, numa propriedade agrícola, a cerca de cinco quilômetros de Jerusalém. Aparentemente, os três eram solteiros, e muito respeitados na comunidade hebraica pela honestidade e religiosidade. Em sua casa Jesus muitas vezes se hospedava, e Lázaro, particularmente, era amigo muito próximo do Senhor. O ponto alto desta amizade nos é relatada no Evangelho de São João (cf. cap. 11,1-45; cap. 12,1-11), quando Marta e Maria mandam avisar Jesus, distante em outro lugar, de que Lázaro, “aquele que Tu amas”, estava enfermo em Betânia. Apesar da mensagem, Jesus ainda Se demorou dois dias antes de ir vê-los, e o fez sabendo da hostilidade dos judeus para Consigo, pois lá haviam tentado apedrejá-Lo há não muito tempo. Jesus sabia que Lázaro já havia morrido quando partiu, e de fato, quando Ele e os Apóstolos chegaram, fazia quatro dias que estava enterrado, segundo o costume judeu: numa gruta, com a entrada fechada por uma pedra.
Tanto Marta quanto Maria disseram a Jesus, “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!”, pois acreditavam que o Senhor poderia curá-lo; porém, embora acreditassem também na ressurreição dos mortos ao final dos tempos, não lhes ocorreu que Jesus poderia ressuscitar Lázaro diretamente. Jesus Se emocionou profundamente com as lágrimas de Maria, e chorou à entrada do túmulo de Lázaro, o que chamou a atenção dos judeus que haviam comparecido para dar condolências às irmãs: “Vede como Ele o amava!”. Também emocionado com os comentários do povo, de que Ele, tendo antes dado a vista a um cego de nascença, poderia ter curado Lázaro, Jesus ordenou que tirassem a pedra que selava o sepulcro.
Marta estranhou, alegando que o corpo já exalava mau cheiro, mas Cristo lembrou-lhe o que conversaram pouco antes, de que ela devia crer na ressurreição e também Nele, o Cristo. Assim, retirada a Pedra, Jesus dirigiu-Se primeiramente ao Pai, em benefício dos circundantes, para que acreditassem; e em alta voz ordenou: “Lázaro, vem para fora!”. Imediatamente o ressuscitado saiu, ainda com os pés e as mãos atados com as faixas fúnebres e o rosto coberto por um sudário. Jesus mandou que o libertassem – “Desatai-o e deixai-o ir”; e, por causa deste milagre, muitos judeus se converteram.
Informados os fariseus do acontecido, reuniram-se em conselho, não felizes pelo milagre e pela vida de Lázaro, mas com ódio do Senhor, pois alegavam entre si que se Ele continuasse a fazer tais portentos, todo o povo se converteria e – ao menos no seu entender – proclamaria, numa revolta, Jesus como rei, quando então “...os romanos virão e arruinarão a nossa cidade e toda a nação” em represália. Diante desta perspectiva, decidiram matar Jesus. E deliberaram igualmente assassinar Lázaro, “pois, por sua causa, muitos se afastavam dos judeus e criam em Jesus”.
Contudo, dias depois do milagre, Lázaro e suas irmãs ofereceram em Betânia um jantar a Jesus, a seis dias da Páscoa. É este o último momento em que os três são mencionados nos Evangelhos. Há indícios concretos, além da tradição e escritos muito antigos, que apontam a viagem de Lázaro e suas irmãs para a ilha de Chipre depois da ressurreição de Cristo, onde ele se tornou bispo de Cítio, hoje Lamaca: em 890, na Basílica de São Lázaro (padroeiro desta cidade), antes um templo cristão do século V, descobriu-se uma lápide com a inscrição: “Lázaro, amigo de Cristo”. E em 1972 arqueólogos encontraram uma arca de mármore, escondida num local abaixo da Basílica, com inscrições de que ali estavam os restos mortais de São Lázaro. Como em 890 relíquias haviam sido trasladadas para Constantinopla, e posteriormente para a França pelos Cruzados, esta arca contém ainda uma parte delas.
Esta igreja, assim como a casa de Lázaro e o seu túmulo em Betânia (os dois últimos desde o início do Cristianismo, segundo São Jerônimo), são locais de peregrinação e visitação.
Reflexão:
A ressurreição de Lázaro foi o último grande milagre, e portanto sinal, na vida pública de Jesus, tornando-o a prova viva da divindade de Cristo, Senhor da vida e da morte. Um aspecto importante a ser destacado é a espera de quatro dias de morte que Jesus estabelece para agir, pois os judeus tinham a norma de esperar três dias completos até oficialmente reconhecer o falecimento de alguém; o Senhor ultrapassa em um dia, ainda, este limite, de modo a que não se pudesse contestar de nenhum modo a evidência do Seu poder divino, e de fato Marta Lhe afirma que o corpo do irmão “já cheira mal”, isto é, já estava em processo de decomposição. Diante de evidência tão cabal, a liberdade humana é obrigada a escolher radicalmente entre somente duas opções: ou a conversão a Deus, para uma vida que nos mereça ser também conhecidos como “amigo de Jesus”, e “aquele que Jesus ama”, ou… querer matá-Lo, como os fariseus, isto é, renunciar a que Deus seja nosso amigo, nossa Vida, para ocupá-la com vãs especulações sobre as possibilidades mundanas e o modo de ajustar-se aos príncipes deste mundo. No primeiro caso, seremos também “Lázaro”, nome de origem grega cujo correspondente em Hebraico é Eleazar, que significa "Deus ajudou". E por isso Nosso Senhor não permitirá a nossa morte, ainda que tramada pelos inimigos mais fortes do que nós, e, levado às lágrimas pela emoção amorosa da Sua amizade infinita, nos ressuscitará para a infinita Comunhão com Ele mesmo, que é a Vida. (Lázaro, mesmo ameaçado pelos fariseus, foi viver em nova terra…). É fazer nosso o diálogo de Marta com o Cristo: “Disse-lhe Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim, jamais morrerá. Crês nisso?’. Respondeu ela: ‘Sim, Senhor. Eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, Aquele que devia vir ao mundo’”. No segundo caso, agiremos planejando a morte de Cristo no mal feito aos irmãos, cometendo crimes de todas as espécies e a seguir mentindo para tentar enganar os demais, como pretenderam os fariseus com a eliminação da “evidência” que era Lázaro, e depois, da mesma forma, espalhando que o Cristo não havia ressuscitado, mas que Seu corpo fôra roubado pelos discípulos… atitudes monstruosas, infelizmente de absoluta atualidade, na cultura, na política, nas ideias, e até mesmo na espiritualidade. Só é possível sair da morte para a vida renunciando ao pecado, que é filho da mentira, e sendo amigos de Cristo, Caminho, Verdade e Vida.
Oração:
Senhor Deus, em cujo amor e amizade infinitos nos fizestes Vossa própria imagem e semelhança, concedei-nos por intercessão de São Lázaro, tão querido e próximo de Vós, a graça de sairmos para fora da escura e fria gruta do pecado e da mentira, e desatai as faixas de concupiscência que nos prendem ao que é passageiro e mortal, de modo a que possamos ir definitivamente para Vós. Que de cada um nós se possa também dizer, “Vede como Ele o amava!”. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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